O impacto positivo da ergonomia na produtividade das companhias

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Por Fabiana Salles

É comum que os colaboradores passem mais horas por dia na empresa em que trabalham do que em casa. Apesar de vermos movimentos como o da Coréia do Sul, que aprovou uma lei que reduz a carga de trabalho da população de 68 para o limite máximo de 52 horas trabalhadas por semana em um movimento de tentar baixar a média anual de 2.069 horas trabalhadas por ano, ainda não há um consenso sobre essa redução de jornada de forma generalizada. No Brasil, por exemplo, dados de 2014 do escritório de St. Louis do Federal Reserve dão conta de que o brasileiro trabalhou cerca de 1.711 horas por ano.

Diante disso, os impactos em termos culturais são enormes. A queda da taxa de natalidade, por exemplo, frequentemente é associada por especialistas a esse fato em partes. Mas há uma questão muito maior: esse também passa a ser o ambiente mais propício para o desenvolvimento de doenças se não estiver preparado para oferecer o que há de mais adequado para a realização das atividades profissionais. Como consequência, temos uma série de implicações que vão desde pontos de legislação até as perdas com absenteísmo e os custos pela falta de qualidade de vida para o coração de qualquer negócio: as pessoas.

Garantir esse espaço saudável e o bem-estar da sua equipe é (ou deveria ser), então, um dos objetivos de toda organização. Afinal, quando o colaborador está confortável e bem-disposto, ele tende a produzir mais e alcançar resultados positivos.

É nesse contexto que a ergonomia pode ser uma grande aliada para tornar essa jornada mais produtiva e menos exaustiva para os colaboradores, que estão em busca de um melhor equilíbrio com suas vidas pessoais e também de experiências mais humanas no ambiente de trabalho. É a partir dela que a empresa observa os pontos que precisa melhorar e as novas medidas que precisam tomar para alcançar o resultado esperado.

Por significado, seu conceito vem da engenharia industrial e tem como objetivo encontrar as melhores condições de trabalho (levando em consideração postura, tempos de descanso e descompressão) para uma relação mais segura e eficaz entre o homem e suas atividades profissionais. Essa otimização, quando bem aplicada, melhora o clima e o desempenho do funcionário. Na sua falta é bastante comum que se apresentem problemas de saúde relacionados aos movimentos repetitivos, como Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou ainda dores de cabeça, nas costas e pelo corpo, que tanto se relacionam ao hábito mais sedentário de passar horas corridas atrás do computador.

De acordo com a Previdência Social, quase 90% dos afastamentos de beneficiários foram causados por doenças osteomusculares e sofrimento mental (cansaço e estresse). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de oito a cada 10 pessoas vão ter problemas de coluna em algum momento da vida.

O dado se relaciona diretamente com um levantamento que fazemos anualmente em nossa base de vidas. Segundo ele, em 2017, pelo quinto ano consecutivo, a dor nas costas continuou a ser o principal motivo declarado que mais afastou os colaboradores das suas atividades profissionais.

Dentre as declarações clínicas analisadas, mais de sete mil se referiam aos problemas relacionados às dores lombares, o que totaliza 9% de todos os afastamentos. Esses profissionais ficam, em média, de três a quatro dias ausentes. Isso significa dizer que, em uma empresa com mil funcionários, é como se duas pessoas ficassem sem trabalhar durante todo o ano aproximadamente.

O segundo lugar dentre os motivos está o procedimento de parto. Em 2017 ele subiu uma posição e respondeu por 7,2% dos atestados. A diarreia e a gastroenterite também ocupou uma casa acima e figurou como a terceira razão, com 3,4% do total de documentos.

A síndrome do manguito rotator, uma entre as principais causas de lesões no ombro, passou do segundo lugar para o quarto na comparação com 2016. Já a infecção das vias aéreas foi vista pela primeira vez no ranking, em quinto lugar, com 2% dos atestados.

Conhecer esse panorama é uma maneira de atuar, de forma integrada, na promoção da qualidade de vida e também na sustentabilidade do benefício de saúde oferecido pela companhia. Pequenos afastamentos que inicialmente não são previdenciários podem encaminhar-se para casos mais crônicos e que impactem diretamente o Fator Acidentário de Prevenção (FAP) e os índices de sinistralidade.

Para evitar esse cenário, a ergonomia é um guia que contribui com recomendações para, por exemplo, evitar os problemas lombares, como o cumprimento da Norma Regulamentadora 17 (NR-17), que visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, proporcionando um máximo de conforto, segurança e desempenho.

A proposta isolada parece ótima, mas há uma provocação que é capaz de agregar ainda mais valor. A adoção de boas práticas e a conscientização e instrução da equipe para uma postura correta ao sentar para evitar os desvios lombares, por exemplo, claramente é importante. Mas o ideal é que de maneira paralela o gestor tenha acesso a dados como sexo, faixa etária e área de atuação de quem é mais impactado pelas questões. Isso porque, a partir disso, é possível desenvolver ações preventivas mais eficientes e também realizar acompanhamentos periódicos para auxiliá-los no avanço do tratamento.

Esse olhar mais humanizado e individualizado dentro do todo é um ótimo aliado na medição de efetividade das medidas de ergonomia adotadas e ainda seu impacto positivo nos ganhos em produtividade e qualidade de vida. A consequência disso é o ganho de vida e a diminuição da doença e da sinistralidade, o grande vilão da sustentabilidade dos planos de saúde financiados pelas empresas.

Justamente por isso é preciso valorizar e investir nos colaboradores. Junto com salários, benefícios e oportunidades de crescimento, o ambiente de trabalho pode ser um fator-chave para o crescimento da organização.

Fabiana Salles – fundadora da GESTO

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