Estudos apontam aumento de afastamentos por saúde mental em professores

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Jornadas longas, muitas vezes em dois locais, estresse, acúmulo de tarefas, casos de violência, remuneração baixa. Esse é o cenário que muitos professores encontram em suas jornadas de trabalho pelo Brasil, o que desencadeia uma série de problemas de saúde, ocasionando afastamentos ou mesmo a desistência de suas funções.

Segundo pesquisa recente, divulgada pelo SBT NEWS, apontou que mais de 43 mil professores da rede pública de ensino estadual pediram afastamento por problemas de saúde mental no Estado de São Paulo, um aumento de 14% relação ao período da pandemia.

 

Razões para os afastamentos dos professores

 

Transtornos comportamentais e doenças como estresse, crises de ansiedade e depressão, estão no rol de razões, aponta o levantamento. Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades, também ao canal, destaca fatores mais profundos para tal cenário: o problema é nacional e reflete as condições e frustações dentro do ambiente de trabalho por parte desses profissionais.

“Temos que progressivamente ir corrigindo os salários dos professores. Sei que temos muitos problemas em relação a isso, mas é algo a ser pensado. Também é importante que as famílias conversem com as crianças e adolescentes sobre a importância do professor em sala de aula. O professor não é apenas um transmissor de conhecimento. Ele é um agente transformador de vidas”, frisa a especialista.

“A profissão não é apenas um lugar de recebimento e remuneração, mas também é um lugar em que se busca a realização. E os professores em geral são profissionais que buscam também na sua relação com o trabalho uma realização. Por conta das condições gerais de ensino, essa satisfação está cada vez mais difícil de ser alcançada”, concorda Rinaldo Voltolini, professor da Faculdade de Educação (FE) da USP, em entrevista à Rádio USP.

 

Uma questão multidisciplinar

 

Como visto, a questão da saúde mental dos professores também perpassa por vários atores, dos que estão na escola e fora dela. No Distrito Federal, por exemplo, mais de 3.100 educadores da rede pública foram afastados por transtornos mentais e comportamentais, até novembro de 2023, segundo informações da Subsecretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (SubSaúde), vinculada ao Governo do Distrito Federal (GDF).

Ana Paula Aguiar, subsecretária de Gestão de Pessoas, da Secretaria de Educação (SEEDF) pondera queo adoecimento mental não se restringe ao exercício da profissão, mas a diversos fatores, como estresse no deslocamento da casa para o trabalho. Ela destaca o Programa de Acolhimento Psicológico Individual (PAPSI), desenvolvido pela pasta. “A pessoa tem sinais de esgotamento e, às vezes, recua em procurar ajuda. Então, criamos um espaço sigiloso para que o servidor tenha esse primeiro atendimento e conversa. Lá, identificamos e fazemos encaminhamento para a Secretaria de Saúde”, explica, ao Correio Braziliense.

Para Marcelo Afonso Ribeiro, professor do Instituto de Psicologia da USP, as condições de trabalho também precisam ser levadas em conta. Ele aponta o papel das tecnologias, que permitiu grande parte das atividades passasse a ser feita digitalmente. “É paradoxal: ao mesmo tempo em que oferece recursos, ampliou-se a quantidade de tarefas e a sobrecarga de trabalho. O professor está muito pressionado, porque tem sempre alguém que vai filmar e um pai ou gestor que vai reclamar. Se sente muito pouco à vontade para desenvolver seu trabalho. Uma maneira de melhorar isso é restituir a autonomia e respeito ao docente”, reflete.

Foto: reprodução

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