Trabalho híbrido: características e como se preparar
A melhoria no cenário da pandemia de Covid-19 contribuiu para que, aos poucos, as relações de trabalho presenciais fossem retomadas. Uma reunião, um dia no escritório, um evento. Um retorno gradual à rotina que, agora, precisa ser melhor avaliado. Pois, diante desse cenário, uma coisa parece ser irreversível: para muitos é impensável retornar a um regime laboral semelhante ao que era feito antes.
Segundo Bernardo Junqueira, engenheiro de Segurança e Higienista Ocupacional, na Ocupacional Medicina e Engenharia de Segurança do Trabalho, a partir do momento que empresas e empregados descobriram ser possível realizar o trabalho a distância sem prejuízos para as entregas, foi possível repensar toda uma estrutura estabelecida há décadas. De acordo com o Índice de Confiança Robert Half, 48% das empresas entrevistadas pretendem investir no formato híbrido este ano e apenas 38% querem retomar integralmente ao presencial.
Junqueira informa que a pesquisa é reflexo de uma pergunta muito importante para esse momento de retorno: qual o papel dos escritórios da rotina das equipes? Um estudo feito pela IDC Brasil mostrou que os cafés com os colegas (50%) e as reuniões presenciais (44%) são as principais atividades que as pessoas sentem falta no presencial. Por outro lado, a redução no tempo de deslocamento (67%) e flexibilidade no horário (31%) são alguns dos pontos que pesam contra o retorno presencial.
“Ou seja, as empresas precisam investir mais na experiência do trabalhador no escritório, para que ele possa sentir que realmente faz sentido estar ali. O modelo híbrido contribui com essa questão, pois é possível definir escalas para as pessoas estarem juntas, trocarem experiências e, assim, poder debater questões relativas aos projetos com maior liberdade”, avalia Junqueira.
Porém, segundo o especialista, não há uma fórmula exata a ser seguida pelas empresas. Em artigo publicado na Época Negócios, o empreendedor Marc Tawil destaca que cada pessoa reage à sua maneira às novas rotinas e precisam ser ouvidas. “E há controvérsias: colaboradores que não têm tempo de empresa vêm sentindo um impacto negativo na carreira. Motivo? Falta de interação com colegas e gestores, falta de oportunidades e invisibilidade para promoções. Outros sentem dificuldades em alternar a rotina entre casa e escritório”, diz.
Com isso, ele defende que cabe às empresas apresentar como as consequências de uma situação híbrida de longo prazo podem afetar tanto a companhia quanto as pessoas. Ao apresentar os prós e contras, as companhias deixam o colaborador à vontade para decidir se aceita ou não essa condição e, assim, demonstram uma maior valorização profissional e harmonia na cultura da empresa.
Cuidados com a saúde mental
A pandemia de Covid-19 afetou os trabalhadores de tal forma que ainda é difícil avaliar todas as consequências. “Angústia por estar em ambientes com muitas pessoas e os aumentos dos casos de ansiedade, depressão e estresse são apenas algumas das questões que precisam ser levadas em consideração nesse retorno híbrido ao trabalho, pois afetam diretamente os funcionários”, observa Bernardo Junqueira.
Do lado pessoal, ele destaca que a principal dica para amenizar esses efeitos é manter hábitos de vida saudáveis. “Uma boa rotina de sono, praticar atividades físicas e ter uma alimentação balanceada contribui para essa melhoria. Além disso, procurar auxílio com um profissional da área de Psicologia ou Psiquiatria é necessário para entender melhor as causas dos problemas e, se for o caso, tratá-los como se deve”, orienta.
As empresas também podem contribuir com a promoção desses hábitos mais saudáveis, mas também podem aproveitar o regime híbrido para investir em outras questões. “Anteriormente foi dito sobre como é importante mostrar para o funcionário que ele estar presencialmente no escritório é relevante para determinados casos, transformando essa experiência. E muito disso passa por uma mudança da própria cultura empresarial, com um maior cuidado com o próprio ambiente de trabalho e um pensamento mais humano e empático”, conclui Junqueira.