Tragédias recentes reforçam a importância da estocagem segura em ambientes de trabalho
Dois casos chamaram a atenção sobre a necessidade de cuidados com o modo de empilhar e armazenar grandes itens, visando salvaguardar a saúde dos trabalhadores e todas as pessoas que circulam em ambientes como supermercados, silos e depósitos de materiais de construção. A estocagem segura faz toda a diferença para a prevenção adequada nesses locais.
O primeiro foi em junho, em Rondônia, quando Kersivane Ferreira Pereira, 25 anos, morreu por ser atingida por sacos de café com mais de uma tonelada na empresa onde atuava. Segundo o g1, colegas ouviram os pedidos de socorro da vítima, que foi soterrada por uma pilha de “Jumbo-Bags”, usados para ensacar grãos. Mesmo socorrida pelo Corpo de Bombeiros, Kersivane não resistiu. A causa está sendo configurada como acidente de trabalho.
Estocagem segura
Já o segundo caso é a sentença dada a um supermercado em São Luiz, MA. Em 2020, uma funcionária morreu após a queda de prateleiras do estabelecimento, deixando também oito pessoas feridas. O juiz Douglas Martins, da Vara de Interesses Difusos e Coletivos no estado, determinou que o grupo supermercadista deve pagar R$ 10 milhões em danos morais coletivos.
“A instabilidade das prateleiras era conhecida, já que um colaborador havia filmado a situação precária dois dias antes do desabamento. Apesar dos avisos, medidas corretivas não foram aplicadas a tempo, resultando no evento fatal e essa previsibilidade foi um ponto crucial no julgamento”, informa matéria do site O Antagonista.
Para Arnaldo Battagin, técnico nos laboratórios da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), ao Mapa da Obra, a maneira de estocar é fundamental não apenas para impedir perdas de produto. “Também evita alterações de suas características e propriedades, algo que pode afetar as estruturas e levar a acidentes”, frisa.O especialista explica ainda que materiais como o cimento, por exemplo, não devem ser empilhados diretamente no chão, mas em pallets de madeira com altura de 10 cm, e em pilhas em torno de cinco a 10 sacos, deixando espaço para favorecer a circulação de ar.
Outro ponto importante para uma estocagem segura é a forma de armazenamento. No caso do cimento, empilhar de forma cruzada é considerada mais segura, acrescenta Fernando Tonelli Bergaro, gerente de operações logísticas da Votorantim Cimentos: “O empilhamento correto é fundamental para conservação e o jeito cruzado garante que não haja tombamento”, diz, ao mesmo site.
Normas Regulamentadoras (NRs)
As NR-11 (Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais) e NR-12 (Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos) são as mais pertinentes dessa área. Em abril, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) publicou uma resolução no Diário Oficial da União (DOU), sobre a NR-11.
De acordo com informações da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), a Resolução nº 9, altera os incisos “I”, “II” e “III” do art. 2º da Resolução CTPP nº 05, de 05 fevereiro de 2024, sobre a composição do Grupo de Trabalho Tripartite (GTT) para revisão dessa norma. Flavio Maldonado Bentes, da Fundacentro, é um dos representantes do governo, e Adir de Souza, atuante na entidade, mas no caso, representando a União Geral dos Trabalhadores (UGT).
“A NR-11 aborda diversos aspectos, como a utilização de equipamentos de proteção individual, capacitação dos trabalhadores, sinalização de áreas de circulação, entre outros. A norma cria um ambiente de trabalho mais seguro e saudável, reduzindo o risco de acidentes, lesões e doenças ocupacionais nas atividades de transporte e movimentação de materiais”, destaca nota da Fundacentro.
Visita técnica
Colaboração. Essa é uma das fórmulas disseminação de conhecimento e de contribuir para que regramentos sejam elaborados a fim de mitigar riscos e evitar que mais acidentes ocorram. Para auxiliar na modernização da NR-11, ouvindo quem atua e usa essa normativa, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) visitou em junho as instalações da Petrobras, RJ, juntamente com o GTT responsável pela norma.
Entre as atividades, uma imersão ao Arm-Rio, armazém da Petrobras para estocagem de 55 mil tipos de materiais, como bobinas, correntes, skids e outros equipamentos em operações de movimentação de carga pesada.
“Pudemos presenciar uma operação externa de guindar com um guindaste hidráulico telescópico, bem como a própria atividade de armazenagem interna em galpões, com exemplificações de operações com empilhadeiras elétricas, atividade logística de armazenagem manual, atividades nas docas de carga e descarga de materiais”, destaca um dos participantes da visita, Brunno Contarato, assessor trabalhista da Confederação.
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