Como muitos imigrantes que tentam a sorte nos Estados Unidos, o brasileiro Rony Jabour foi trabalhar na construção civil quando chegou ao país, em 2004. Esse é um mercado que movimenta, anualmente, cerca de US$ 1,3 trilhão e frequentemente absorve mão de obra estrangeira. Mas lá, reparou que nem sempre as normas de segurança eram seguidas à risca,
“Ficava imaginando se não havia uma maneira de nos protegermos melhor. No canteiro de obra onde trabalhava, não havia nenhuma segurança”. Ele conta que costumava trabalhar em grupos de até 200 trabalhadores, e um certo dia houve uma inspeção do governo federal. Devido às irregularidades, a empresa foi obrigada a levar todos os trabalhadores para um centro de treinamento”. Foi então que ele descobriu que sim, havia como desempenhar as funções de maneira mais segura. “Só então comecei a aprender sobre a segurança no trabalho”.
Jabour tomou gosto pelo treinamento, e junto com a facilidade com idiomas, apostou no negócio na região de Boston.
O trabalho deu frutos. Graduou-se em segurança e saúde no Keene State College e atualmente, a companhia que dirige, a United Safety, oferece cursos de proteção para atividades tão distintas como prevenção de incêndios e segurança da vida; proteção respiratória; escavação e abertura de valas; mecânica do solo, entre outras. A escola certifica mais de 2 mil trabalhadores todos os anos, oferecendo treinamento de acordo com o OSHA em português, espanhol e inglês. A sigla refere-se à Occupational Safety and Health Administration, órgão equivalente a uma secretaria do Departamento do Trabalho norte-americano, equivalente a um ministério do governo federal.
Mais de 15 anos depois da sua chegada em solo estadunidense, em 2020, ele recebeu um prêmio do Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos, quando foi escolhido como uma das 40 pessoas de destaque abaixo dos 40 anos no setor de segurança do trabalho. Em 2021, veio outra premiação, quando foi escolhido pelo Fórum Global de Educação como um dos 100 melhores líderes em educação em todo o mundo.
Durante sua experiência, ele conta que um dos maiores desafios é conciliar nos treinamentos as diferentes culturas dentro das salas de aula.
“Geralmente, são três os perfis que procuram os treinamentos. Ou são brasileiros, ou oriundos de países hispânicos – como Colômbia, Guatemala, ou México; e o norte-americano. Em relação aos brasileiros, aqueles que chegam têm um entendimento das regras de segurança, em uma escala de zero a dez, nota 3 ou 4. Eles sabem pouco sobre segurança do trabalho. Já os trabalhadores dos países hispânicos, o que vemos é que eles tiveram ainda menos acesso à informação, e muitos mal puderam estudar o que seria um ensino fundamental ou médio. Então, o primeiro passo é convencê-los de que os EPIs são importantes. Não se pode trabalhar com a mentalidade de que “se nada aconteceu comigo até agora, não vai acontecer”. Os norte-americanos são os que chegam mais preparados.
Ensino técnico | Jabour entende que o acesso à informação, ainda durante o período escolar, causa um impacto na cultura laboral da construção civil.
“Oferecemos instrução a partir do segundo grau. Vamos até as escolas porque muitos estudantes concluem o segundo grau e entram diretamente no mercado de trabalho. Nem todos irão para a faculdade imediatamente após a conclusão da escola”. O modelo funciona como um minicurso introdutório em formato de dois dias de aulas, com cinco horas de duração.
De acordo com o empresário e professor, não existe nos Estados Unidos a figura do técnico de segurança do trabalho. A função é desempenhada pelo mestre de obras.
Para os interessados, atualmente é possível se matricular nos cursos da United Safety mesmo fora dos Estados Unidos. Os valores vão de US$ 50 a US$ 250 no site unitedsafetynet.com