Artigo: Como evitar acidentes elétricos no trabalho rural?
por Marcos Victor Lopes
São quase duas da tarde de um domingo de maio de 2016. Um trabalhador rural está conduzindo uma máquina agrícola, no trabalho de transbordo, quando a colheita da lavoura é deslocada para descarregamento. Ao passar próximo à rede elétrica, o veículo colide com um poste de alta tensão, causando a quebra da estrutura e a queda dos cabos de energia sobre ele. O trabalhador rural, que estava dentro da cabine, tenta descer para avaliar o ocorrido. Ele acaba perdendo a vida ao receber uma descarga elétrica.
O caso ocorrido com um funcionário de uma usina de cana-de-açúcar, na cidade de Batatais (região de Ribeirão Preto – SP), ilustra bem o que ocorre na zona rural em todo o País. Curiosamente, os trabalhadores desta usina haviam participado recentemente de um treinamento, por meio de uma campanha de prevenção de acidentes com eletricidade.
Em outra situação, em abril de 2016, um operador de colheitadeira colidiu contra um poste, provocando a queda dos cabos sobre a máquina agrícola, ferindo o trabalhador. O desastre aconteceu em uma fazenda, na cidade de Nonoai, no estado do Rio Grande do Sul.
Uma das maiores causas de acidentes envolvendo maquinário agrícola e rede elétrica é a falta de planejamento e atenção, quando no desempenho de atividades no campo. As dimensões das máquinas utilizadas na colheita aumentam o risco de um contato acidental com os fios de energia, assim como o fato de as culturas ultrapassarem e, muitas vezes ocuparem, a área determinada como faixa de servidão e segurança, estando sob as redes de transmissão ou de distribuição de alta voltagem. Tudo isso contribui para que esses imprevistos ocorram com maior frequência.
As faixas de servidão não existem à toa. Atuam como proteção e segurança entre as lavouras e a rede elétrica. Essas faixas resguardam tanto o sistema elétrico como os trabalhadores rurais, que muitas vezes utilizam máquinas de grande porte próximas dos equipamentos do sistema elétrico. Não ocorre somente o fato de a máquina tocar os cabos da rede. Em alguns casos, os veículos acabam batendo contra os estais (cabos de aço que prendem os postes ao chão), derrubando postes e fios energizados.
Conforme determina a Norma Técnica NBR 5422 – Projeto de linhas aéreas de transmissão de energia elétrica, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), as faixas de servidão e segurança possuem a largura mínima de 30 metros, para as linhas de 69, 88 e 138 kV e a largura mínima de 20 metros para as linhas de 34,5 kV. Isso significa que nestas áreas é proibido plantio de espécies que ultrapassem a altura ou que requeiram a utilização de maquinário agrícola para seu manejo.
Apesar de o período mais crítico de ocorrência de acidentes seja o da colheita, quando os agricultores devem redobrar os cuidados com as redes de energia, é importante planejar sempre as atividades. É importante visitar os locais onde os trabalhos serão realizados, observando os locais onde existe rede e dimensionando as máquinas para a realização do serviço a ser realizado.
Durante queimadas e outras atividades, como colheita de frutos, o perigo também é grande. Com a modernização do sistema de colheita, visando o aumento da produtividade, as máquinas estão ficando maiores, e acabam tocando a rede ou os equipamentos que a sustentam. Por isso é importante planejar todo o trabalho antes e fazer o reconhecimento do local, determinando as distâncias seguras da rede elétrica. Um dos fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes é o caso do agricultor, por desconhecimento, se arriscar ao tentar passar com máquinas de grande porte sob a rede.
A energia elétrica traz muitos benefícios e é impossível viver sem ela nos dias atuais. Acidentes na área rural, além de colocar em risco o trabalhador, acabam deixando até mesmo cidades inteiras sem energia. Por isso, é necessário ter muito cuidado ao lidar com as redes elétricas, principalmente no controle de riscos de acidentes. Assim, o cuidadoso planejamento e a utilização de métodos de prevenção, tanto por parte do empregador, como dos operários rurais, é fundamental para evitar transtornos para população, às empresas distribuidoras de energia e aos próprios trabalhadores. Com planejamento e segurança, todos agradecem.
Marcos Victor Lopes é gerente de Saúde e Segurança do Trabalho da CPFL Energia