Capacitação portuária reduz acidentes na movimentação de cargas

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A tragédia ocasionada pela queda seguida de explosão de contêiner com carga perigosa no pátio do Porto de Aqaba, na Jordânia, dia 27 de junho, deixou 13 profissionais mortos e 251 feridos. O navio estava esperando para carregar quase 20 contêineres de gás liquefeito contendo uma porcentagem muito alta de cloro, completando que o produto era pesado e de difícil transporte.

João Gilberto Campos, diretor presidente do Instituto de Capacitação e Treinamentos Técnico Portuária (Incatep), técnico de Segurança no Trabalho, avalia que apesar da causa do acidente ter ocorrido pelo rompimento dos cabos de aço do guindaste que realizava a operação de içamento e carregamento de contêiner Isotanque, com supostamente 25 toneladas de gás cloro, o operador do equipamento poderia ter previsto ou mitigado o acidente

Mestrando em Engenharia Mecânica, especialista em Terminais Portuários, instrutor credenciado pela OIT/PDP com experiência de mais de 30 anos no mercado portuário nacional e internacional, Campos destaca que o treinamento e a capacitação dos operadores e responsáveis pelos materiais de estivagem, na movimentação de carga e descarga, inclusive de cargas perigosas, é vital para mitigar acidentes como este ocorrido no porto na Jordânia.

“A indústria portuária necessita estar preparada para receber novos tipos de carga, principalmente as cargas perigosas. Para isto, o Incatep desenvolveu uma plataforma AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem), especifica para a atividade portuária, onde a exposição ao perigo está presente no dia a dia. A plataforma apresenta ferramentas SÍNCRONAS, que necessitam de conexão em tempo real, e ASSÍNCRONAS, cujo conteúdo é disponibilizado dentro da plataforma, todas com atividades práticas presenciais, exigidas pelas normas regulamentadoras e trilhas formativas”, informa.

 

NR-29

 

Segundo Campos, apesar do acidente no Porto de Aqaba, na Jordânia ter sido uma falha mecânica (rompimento dos cabos), o trabalhador responsável pelo serviço poderia ter evitado o acidente ao executar os procedimentos de inspeção do material de estivagem, descritos nos conteúdos programáticos do PREPOM, normas ABNT e na NR-29, antes de conectar os cabos, através de uma inspeção visual, nos cabos da lingada, do contêiner.

Ele informa que além de ser certificado em conformidade com a norma ISO 9001:2015, o Incatep é credenciado pela Autoridade Marítima do Brasil. “A Organização Marítima Internacional (IMO) desenvolveu um código para uniformizar o transporte de cargas perigosas, internacionalmente, o IMDG CODE, cuja alterações, através da resolução MSC.262(84), exigem capacitações e treinamentos, para diversos níveis de trabalhadores portuários, em terra e a bordo”, explica.

De acordo com Campos, no Brasil, existem normas da ABNT, e principalmente a NR-29, que descreve com detalhes os riscos das operações com cargas perigosas no trabalho portuário, que se fazem presente nas bibliografias do PREPOM – Programa de Ensino profissional Marítimo e nas trilhas formativas do Incatep.

Com grande expertise em simulação de riscos operacionais em portos, o especialista vê que o grande segredo na capacitação e treinamento da mão de obra portuária está no desenvolvimento da capacidade do trabalhador para identificação de potenciais riscos e ameaças operacionais. “Além de treiná-lo a tomar a decisão correta para que, em caso de acidente, os impactos sejam mínimos”, observa.

 

Automação será crucial para portos se manterem competitivos

 

Os portos brasileiros investem mais em automação, porém, Campos frisa que o setor ainda não tem mão de obra qualificada. “Para atender à crescente demanda de mercado, o Instituto de Capacitação e Treinamento Portuário desenvolveu simulador de controle remoto projetado para ajudar o setor portuário a treinar seus operadores. Muitos equipamentos já podem ser operados em modo remoto e esses simuladores, por sua vez, vão preparar essa mão de obra”, diz.

Através de etapas de capacitação e treinamento teóricos e práticos, batizadas como trilhas formativas, a empresa criou o sistema com sofisticado design de interface para atender o mercado portuário. “São 28 simuladores para atender o treinamento dos trabalhadores portuários em equipamentos, do porto, como: empilhadeiras de pequeno porte, reach stacker, RTG, STS e MHC. guindaste de bordo, carregadores de navios, dentre outros”, detalha Campos.

Ele conta que os sistemas de controle remoto podem ser personalizados para corresponder ao sistema de gerenciamento de guindaste específico. “A mesa pode ser configurada com até seis monitores para imitar a configuração de uma mesa de operador de controle remoto. O sistema autônomo se integra facilmente com o software de simulação e à estação do instrutor, permitindo que o instrutor e administradores configurem cenários específicos, gerando estatísticas e relatórios”, explica.

Para o executivo, os cuidados para mitigar os riscos na movimentação de contêineres são um dos pilares para um transporte seguro e promovem diversos benefícios ao porto, ao trabalhador e aos clientes do terminal portuário.

 

Fonte: Portos e Navios

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