Diretor Técnico da Fundacentro, Robson Spinelli Gomes, e o membro do Conselho Técnico da Associação Brasileira de Higiene Ocupacional (ABHO), Mario Luiz Fantazzini, palestraram no encontro do Grupo Técnico de Higiene Ocupacional do Estado de São Paulo (GTHO-SP) que ocorreu 24 de maio, no auditório da Fundacentro de São Paulo.
Instituído em 2016, o GTHO-SP tem como objetivo promover a interação dos profissionais de segurança e saúde do trabalho, sobretudo nos assuntos ligados à higiene ocupacional. Nesse sentido, o evento convidou engenheiros de segurança do trabalho, médico do trabalho, técnicos em segurança do trabalho, higienistas ocupacionais e demais interessados em higiene ocupacional para participar das discussões sobre o tema.
O técnico de segurança do trabalho e representante do Grupo Técnico, Jadson Viana de Jesus, abre o evento e salienta que promover e valorizar a higiene e os higienistas ocupacionais no Brasil é uma ação que vem sendo desenvolvida pelos membros que compõem o GTHO, tanto de São Paulo quanto de outros estados. Além disso, a rede de trabalho foi criada para disseminar iniciativas, experiências em benefício da saúde dos trabalhadores.
O presidente da ABHO, Osny Ferreira de Camargo comenta que a Fundacentro sempre esteve ligada a higiene do trabalho. “É uma honra realizar este evento nesta instituição que é a casa do prevencionaista”, frisa Osny.
Dando início às palestras, o diretor Técnico da Fundacentro, Robson Spinelli aborda “Aspectos técnicos da exposição ocupacional aos campos eletromagnéticos”. Robson destaca a cartilha da Organização Mundial da Saúde (OMS), que em 1996 publica um texto sobre “Campos Eletromagnéticos e Saúde Pública”.
“Nesta cartilha estabelece-se um diálogo sobre os riscos de campos eletromagnéticos, os quais foram levantados vários questionamentos sobre as consequências para a saúde da exposição a campos elétricos e magnéticos”, salienta Robson. Completa que foram realizados muitos estudos para resolver questões relacionadas à saúde e sua prevenção.
Para o físico nuclear, doutor em engenharia de produção e mestre em ciência ambiental, as conclusões desta pesquisa realizada por um Grupo de Trabalho foi importante porque salientou os efeitos que os campos elétricos e magnéticos aferem à saúde.
“O desafio do higienista é estar nas discussões para propor a prevenção de acidentes e resguardar a saúde dos trabalhadores”, comenta o físico nuclear.
Radiação não ionizante e campos eletromagnéticos
A respeito disso, o diretor Técnico informa que a radiação não ionizante são campos de frequências extremamente baixas, os quais englobam micro-ondas, ondas de rádio e televisão, e seu efeito gera luz ou calor.
Já, os campos eletromagnéticos são invisíveis ao olho humano e estão presentes em todos os lugares em nosso ambiente. Como exemplo, Robson explica que os campos eletromagnéticos podem ser emitidos pelo eletrodoméstico (micro-ondas) e telefones celulares.
“Destaco o aparelho celular que hoje em dia são verdadeiros computadores de mão e possuem diversos aplicativos (apps) ”, salienta Spinelli. Informa ainda que diferentemente de décadas atrás, nos dias atuais o aparelho também é uma ferramenta de trabalho e serve para fotografar, escrever, desenvolver atividades de trabalho, ouvir músicas, encontrar emprego, monitorar a dieta e outros.
Questões de saúde
“As pessoas estão vinculadas o tempo todo ao uso do celular. No entanto, é preciso atentar porque as ondas eletromagnéticas podem afetar o cérebro, o sistema hormonal e o coração”, frisa Robson. Enfatiza que além do sistema de telefonia celular, as radiações não ionizantes advindas das antenas de rádio e televisão concentradas em torres também são uma preocupação no que se refere à saúde humana.
“Desencadeiam a hipertemia, dores de cabeça, catarata, afeta o funcionamento de marca-passos, falhas na memória e câncer”, ressalta o diretor Técnico. Sobre o câncer, completa informando o estudo de Devra Devis sobre “Secret War Cancer. Já com relação ao efeito térmico, o aquecimento da massa encefálica em um adulto a porcentagem é de 20% do comprometimento, em crianças chega a 70%.
“Quanto mais jovem utilizar o aparelho celular, maior será o dano para a saúde da criança. Além disso, é importante que as pessoas não coloquem o aparelho celular no bolso ou debaixo do travesseiro”, alerta Spinelli.
História e amostragem dos agentes ambientais
De acordo com os especialistas, ação da higiene ocupacional tem como finalidade intervir em um ambiente de trabalho para que sejam adotadas medidas de prevenção de doenças, concomitantemente com a medicina ocupacional que foca no indivíduo.
O higienista ocupacional Mario Luiz Fantazzini abordou o tema “Estratégia de Amostragem dos Agentes Ambientais – A Ferramenta para o conhecimento e a gestão das exposições aos agentes ambientais”.
Fantazzini, assim como o nosso diretor Técnico, Robson Spinelli, tem um histórico importante na história da Fundacentro e nas questões sobre Higiene Ocupacional. O engenheiro mecânico e de segurança trabalhou por treze anos na instituição, o qual foi pesquisador, chefe do setor de Riscos Físicos da Divisão de Higiene do Trabalho e também diretor Técnico.
O higienista desenvolveu metodologias de avaliação ambiental pioneiras em sílica, vibrações e radiofrequência. “Na época que trabalhei na Fundacentro localizada no bairro Perdizes, fiz inspeção durante a construção do prédio do Centro Técnico Nacional (Fundacentro), em Pinheiros, São Paulo”, salienta Fantazzini.
Historicamente as questões que envolvem a higiene ocupacional começaram, segundo Fantazzini, desde a época dos escravos, eles sabiam quando o ambiente de trabalho tinha riscos. Mas, de acordo com informações de especialistas, as pesquisas e publicações a respeito do tema teve início em 1556, com a obra De re metallica (Dos metais), de Georg Bauer que descreveu métodos de prevenção de doenças; e a obra de Bernardino Ramazzini “De morbis artificum diatriba”, em 1700.
“A doutora Alice Hamilton, em 1910, nos Estados Unidos, realiza estudos para observar as doenças ocupacionais e a avaliação dos agentes e, sobretudo, o seu controle”, descreve Fantazzini.
Anos seguintes, teve a criação da National Institute of Occupacional Safety and Health (Niosh), em 1914; a American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH), em 1938, no ano posterior surge a American Industrial Hygienists Association (AIHA).
“Em 1977, a Niosh lança o Manual Occcupational Exposure Sampling Strategy, em seguida a AIHA e cresce o interesse dos estatísticos em higiene ocupacional”, informa Fantazzini.
O higienista em 1981, consulta na biblioteca da Fundacentro o Manual da Niosh e inicia o processo de estudar uma forma para introduzir os conceitos que a publicação traz em seu escopo. Em 1985, é publicado pela instituição as Normas de Higiene do Trabalho (NHT´s), hoje conhecida como Normas de Higiene Ocupacional (NHO) disponíveis na página da biblioteca.
“Fato básico da Higiene no Trabalho (HO) é identificar, entender e controlar todas as exposições a que o trabalhador esta exposto. Caso contrário, não será possível desenvolver estratégia para prevenção”, ressalta Mario.
Fantazzini comenta que avaliar a exposição de um trabalhador, ou mesmo de um grupo, o qual está exposto a um determinado agente ambiental é diferente de medir determinada intensidade ou concentração. Explica ainda que avaliar é reconhecer o aspecto de exposição, após é necessário estabelecer um critério de amostragem e acompanhar a jornada de trabalho para tirar conclusões e iniciar o processo de controle.
Para o higienista, o reconhecimento é um alerta para preservar a saúde do trabalhador, além disso é fundamental avaliar a tolerabilidade e os riscos intoleráveis precisam de uma ação para o imediato controle. “Em torno de 6 a 10 amostras são importantes para analisar a exposição ocupacional”, destaca Fantazzini.
Fonte: Fundacentro