Estresse prolongado prejudica gradativamente a saúde dos trabalhadores, apontam estudos

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Boletos, problemas pessoais e profissionais, guerras, crise climática, violência nas cidades. Esse combo de notícias e situações ruins juntamente com local de trabalho tenso pode resultar em problemas sérios de saúde. Pesquisa da Associação Americana de Psiquiatria mostrou que a exposição constante a notícias negativas, informações perturbadoras e imagens angustiantes é um dos principais impulsionadores do estresse e da ansiedade dos funcionários, podendo prejudicar a saúde e a produtividade dentro das empresas. Em números, os trabalhadores norte-americanos estão preocupados com a inflação (76%), a violência (69%) e o meio ambiente (61%).

Já no Brasil, os trabalhadores da chamada Geração Z (pessoas nascidas, em média, entre a segunda metade da década de 1990 e o ano de 2010) estão entre as mais deprimidas e ansiosas, segundo outro levantamento, o da health tech Vittude, especializada em saúde mental, divulgada pela Bloomberg Línea.

Dados apontam que uma em cada quatro pessoas empregadas no país (27,7% do total) com idade até 25 anos se diz com ansiedade; a mesma proporção (27,5%), com depressão; e uma em cada três (36,5%), com estresse. “A geração que registrou maiores índices de transtornos é também a primeira nativa digital, ou seja, já nasceu em um ambiente assim. Podemos traçar um paralelo entre o aumento do desenvolvimento de transtornos mentais como esses citados pela pesquisa com o aumento de contato e familiaridade com a tecnologia”, salienta Tatiana Pimenta, CEO da Vittude.

 

Gatilhos do estresse

 

O excesso de informações, telas e ainda a acessibilidade constante a dispositivos de demonstram as pessoas estarem sempre online e/ou dispostas a trabalhar a qualquer momento e em qualquer lugar são os gatilhos para doenças relacionadas ao estresse, como Burnout, ansiedade e depressão, alertam os especialistas.

Falando em Síndrome de Burnout, o Brasil tornou-se um terreno fértil para o desenvolvimento desse transtorno, destaca a psiquiatra Alexandrina Maria Meleiro, da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), à CNN. “O Brasil é o primeiro país no mundo no índice de ansiedade (9,3%) e é o quinto no mundo de depressão, só perdendo na América para os EUA. Então, nós temos uma incidência muito alta, uma prevalência de depressão e ansiedade e claro que isso atinge o trabalhador. Em média, 30% são afastados e é um dos motivos de mais incapacidade para o trabalhador”, frisa.

“Tem uma série de profissões que são mais comuns de se observar esse tipo de fenômeno. Trabalhadores da área da saúde, submetidos a situações de extremo estresse, tendo que lidar com perdas muito significativas, com o medo de contaminação, com incerteza às vezes com condições de trabalho que não são favoráveis”, pontua Catarina Dahl, consultora de saúde mental, álcool e outras drogas das Organizações Pan-Americana da Saúde (Opas) e Mundial de Saúde (OMS), também ao canal.

 

Por um ambiente que favoreça a resiliência

 

Inevitável estarmos alheios ao noticiário, inertes ao uso de tecnologias e dispostos a ficar totalmente off-line, contudo a busca pelo equilíbrio necessita ser uma premissa se quisermos melhorar a qualidade de vida e de trabalho.

Para tanto, as empresas precisam também embarcar nesse objetivo, estando cientes da importância de pausas, respeito aos horários, distribuição de tarefas, demandas e ainda o emprego de ações de saúde mental não sendo vistas apenas como um bônus, mas ferramenta importante aos colaboradores. “Não cabe mais olhar a saúde mental como um pilar de benefício oferecido. O cuidado emocional precisa ser integrado e exige atenção por meio de programas. Afinal, isso impacta o bem-estar, a motivação, odesempenho e a produtividade das equipes”, frisa Tatiana Pimenta, da Vittude.

 

Como, então, as corporações podem ser aliadas a esse propósito?

 

Melissa Miller, diretora de clínica médica, e Andrea Mingo, treinadora de Wellness, ambas da plataforma de saúde e meditação Calm, recomendam que as organizações invistam na cultura da conversa, com times alinhados em criar uma “aliança para a saúde psicológica”, ou seja, um manifesto a favor da saúde mental, dando voz a todos os atores. Isso pode ser feito desde o setor de Recursos Humanos até as pessoas que trabalham como terceirizadas, por meio de treinamentos e capacitações, sempre com uma ajuda especializada.

Elas também propõem o que chamam de “PIE check-in”, uma verificação se os times estão bem nos quesitos Físico (Physical), Intelecto (Intellectual) e Emocional (Emotional). “Inicie reuniões com uma conversa aberta com a equipe, permitindo que os funcionários sejam ouvidos por meio da auto-avaliação. Como você está fisicamente, intelectualmente, emocionalmente? Às vezes, a resposta vai ser ‘estou exausto, triste’ ou ‘sinto-me esgotado, sobrecarregado’. Dar espaço para compartilhar, de forma autêntica, ajuda as pessoas a se sentirem mais seguras o suficiente para dividir esses problemas, e os líderes, em especial de RH, possam entender essas demandas e buscar ajuda”, esclarecem.

Foto: GettyImages

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