Janeiro Branco alerta para a relação da saúde mental com os acidentes de trabalho
Estamos em mais um Janeiro Branco, mês alerta sobre a importância da conscientização sobre a saúde mental, e o tema está ganhando ainda mais notoriedade no campo corporativo: o Ministério da Saúde atualizou em novembro a lista de doenças relacionadas ao trabalho, rural, urbano, formal e informal, incluindo a Covid-19 e a Síndrome de Burnout.
O documento não era atualizado há 24 anos e também agregou outras 165 patologias, como distúrbios musculares, esqueléticos e alguns tipos de câncer. Com a nova portaria, já aceita ministérios do Trabalho e Emprego e da Previdência Social, o número de diagnósticos possíveis saltou de 182 para 347. Burnout, por exemplo, afeta 30% dos trabalhadores no Brasil, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), sendo o excesso de funções uma das principais.
Alerta
Outro alerta vindo da pesquisa é a conclusão de que houve um aumento de 72% entre os anos de 2020 e 2022 das ações trabalhistas relacionadas com a síndrome do esgotamento profissional, sendo o Estado de São Paulo o que concentra a maior parte dos casos judiciais, explicam em artigo ao Consultor Jurídico, Ricardo Calcini, professor e sócio-consultor do escritório Chiode e Minicucci Advogados | Littler Global; e Leandro Bocchi de Moraes, membro da Comissão Especial da Advocacia Trabalhista da Ordem dos Advogados do Brasil – São Paulo (OAB-SP).
Essa demasia de tarefas, associada ao constante uso e (dependência) dos dispositivos eletrônicos, encabeçam os motivos para o esgotamento físico e mental, sendo também motivo por desencadear doenças de trabalho. Mariana Zieza, psicóloga especialista em saúde mental, ressalta o chamado Burnout Digital, transtorno caracterizado pelo hiperestímulo por conta da exposição prolongada às telas, causando um impacto negativo na saúde e no bem-estar. “Somos constantemente afetados por uma cultura da produtividade, que nunca pode parar, em que há uma desvalorização do ócio, nos sobrecarregando”, explica a psicóloga, em entrevista à Tupi FM.
E arremata a importância de atividades off-line em prol do bem-estar: “É fundamental reservar tempo para hobbies, exercícios físicos e interações sociais no mundo real, a fim de manter um equilíbrio saudável. Com essas medidas, é possível desfrutar dos benefícios da tecnologia sem prejudicar a saúde”, esclarece Mariana Zieza.
Mulheres e Burnout
A Saúde Mental também é um tema discutido em outros países. Estudo da Atticus, empresa americana de advocacia que apoia pessoas a buscar ajuda do governo e de seguros, mostrou que estresse e ansiedade são agora os mais comuns no ambiente laboral, representando 52% de todos os casos de lesões ou doenças relacionadas.
Para Bryan Robinson, colaborador da Forbes e professor emérito da Universidade da Carolina do Norte, esse cenário é ainda mais crítico às trabalhadoras e mães, em razão de fatores diversos como a jornada dupla, dívidas, remuneração baixa e, novamente, sobrecarga de trabalho. “Hoje, 60% delas querem mudar sua situação financeira e 30% gostariam de mudanças em sua jornada ocupacional, segundo levantamento da ONG Think Olga com 1.078 brasileiras com mais de 18 anos. Isso pode explicar por que 45% das mulheres receberam diagnóstico de ansiedade, depressão ou algum tipo de transtorno mental”, destaca o pesquisador em seu artigo.
Autoconhecimento
A promoção de mais políticas públicas voltadas à saúde mental, investimento em ações dentro das empresas e, principalmente, um plano de autocuidado são instrumentos importantes para mitigar os transtornos mentais às trabalhadoras e trabalhadores. “Conhecer seus limites, definir expectativas realistas, evitar o esgotamento e comunicar sentimentos de sobrecarga ou fadiga a chefes e colegas de trabalho. Isso pode significar recusar um novo projeto ou abrir mão de algumas responsabilidades. Cada um precisa fazer a sua parte para proteger a saúde mental”, conclui Robinson.
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