O reflexo positivo da tomada de decisão com base na ss
Bruno Carlesso Soprani
Em meados de 2019, uma importante empresa do ramo de celulose e papel iniciou a substituição de dois tetos falsos da Máquina de Papel. Estes sistemas, localizados sobre a máquina, têm por função impedir a condensação e a precipitação do vapor desprendido pela produção de papel, o que poderia gerar furos e quebras na folha. Durante o estudo do projeto identificamos alguns riscos críticos: calor excessivo porque a atividade acontecia com a máquina em operação; dificuldade de resgate, pois o trabalho era realizado em altura com uso de plataforma aérea; ponte rolante e queda de materiais dentro da máquina, o que poderia gerar contaminação, danos ao ativo e prejudicar a produção.
Fiz questão de citar os principais riscos críticos, pois, apesar de ser um projeto de média magnitude, qualquer descuido poderia ocasionar graves danos, principalmente às pessoas e aos equipamentos.
No entanto, o principal ponto atenção era o calor. Assim, tomamos as seguintes ações: realizamos um estudo de stress térmico que direcionava o período de trabalho e descanso; distribuímos rotineiramente sais de hidratação (sob prescrição médica), água em abundância; providenciamos um sistema de resgate dedicado; tivemos a constante e importante participação dos bombeiros, segurança e operação no processo de liberação dos trabalhos; ministramos palestra sobre alimentação saudável – sob orientação de uma nutricionista – indicando os benefícios da alimentação adequada para prevenir desgaste excessivo; instalamos ventilação e exaustão durante toda a atividade; e, por fim, instauramos o revezamento de colaboradores.
O projeto tinha um efetivo médio de 15 colaboradores e a previsão de ser realizado em 30 dias. Porém, pouco a pouco, a produtividade da equipe foi caindo. O incômodo com as altas temperaturas aumentava, o cansaço batia e o prazo de 30 dias, infelizmente, não fora cumprido.
Mediante estas situações ligamos o sinal de alerta. O que fazer? A resposta: ouvir os colaboradores. Com a aplicação da escuta ativa ouvimos a opinião de quem mais importava, ou seja, aqueles que colocavam a mão na massa. Identificamos que os colaboradores, por residirem em outro estado, sentiam saudade de suas famílias, principalmente pelo longo período fora de casa. De posse dessas informações, e em conjunto com a Coordenação da Engenharia e a empresa contratada, tomamos a decisão de dar folga de campo a todos os colaboradores por uma semana.
Seria essa a melhor decisão para um projeto que apresentava atraso devido à sua grande complexidade? Com certeza! Quando a equipe retornou, a produtividade, os aspectos de segurança, a assiduidade e a qualidade dispararam. Concluíram a montagem e com zero acidente. E para comemorar o resultado promovemos um café da manhã e um reconhecimento a todos envolvidos.
O que mais me chamou a atenção? Como ouvir a mensagem, tentar entender o que o outro pensa e se disponibilizar para ajudar na solução do problema pode mudar o rumo do projeto e das pessoas.
Outro ponto marcante é a relação pessoal com a profissional, pois ambas andam juntas. Qualquer problema (cognitivo ou psicossocial) pode afetar diretamente a segurança dos colaboradores. Tentar resolver, direcionar ajuda e envolver a equipe para uma tomada de decisão, mesmo que não sejam aspectos ligados a sua área profissional, faz a diferença.
Este projeto ensinou-me que além dos aspectos de segurança, devemos estar sempre atentos ao comportamento das pessoas. Identificar sinais que nos direcionem a quaisquer problemas é um desafio, mas dá resultado. É importante ser mais aberto, presente e participativo no dia a dia, pois afinal as pessoas são o que realmente importa.
Aproveito para parabenizar o coordenador Franco Picinalli Pereira por sua atuação nos projetos de sua responsabilidade, sempre humanizando as frentes de trabalho e entendendo que, embora custos e prazos sejam importantes, cuidar de pessoas vem sempre em primeiro lugar.
Bruno Carlesso Soprani é engenheiro de Segurança do Trabalho.