Os riscos da amônia para o trabalhador brasileiro
*Priscila Akiti
Milhares de trabalhadores brasileiros lidam diariamente com a amônia e podem estar correndo riscos reais de exposição a essa substância tóxica, por conta da falta de informações mais precisas sobre normas e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) adequados. O composto químico é capaz de causar danos graves aos pulmões e ao cérebro, queimaduras na pele e até a morte.
A amônia (NH3) pode ser aplicada em muitas indústrias, de fertilizantes agrícolas a produtos de limpeza, mas neste artigo vamos nos concentrar em uma utilização específica: a refrigeração.
O amoníaco é usado há mais de um século em sistemas refrigerantes em todo o mundo. Em forma gasosa, a amônia é utilizada nas tubulações dos equipamentos de refrigeração, atingindo temperaturas bem abaixo do zero graus Celsius.
Tipos de proteção
Dentro de um programa efetivo de saúde e segurança no trabalho, a análise multirrisco é essencial, envolvendo fatores que vão dos ambientais aos comportamentais. Neste artigo vamos nos concentrar nos EPIs, a última barreira para a defesa do trabalhador.
As vestimentas de proteção contra amônia devem ser utilizadas na manutenção e limpeza. As duas categorias mais comuns de vestimentas são o macacão não hermético e o traje encapsulado hermético. Em situações de emergência com vazamento de gás amônia, o modelo encapsulado torna-se de uso obrigatório.
Onde mora o perigo
É neste ponto que a saúde dos trabalhadores pode estar sendo colocada em risco no país. Nem todas as roupas de proteção química contra gases e vapores oferecem proteção efetiva e total contra a amônia.
No Brasil, a emissão de CA (Certificado de Aprovação) para roupas de proteção contra agentes químicos é regulada com base na ISO 16602:2007, norma internacional que estabelece níveis de proteção cuja classificação vai do Tipo 6 (proteção limitada contra borrifos) ao Tipo 1 (proteção contra partículas tóxicas, vapores e gases).
Os trajes encapsulados herméticos são classificados como Tipo 1 de acordo com a norma ISO 16602:2007. Como mencionado anteriormente, a amônia é usualmente encontrada no estado gasoso em aplicações de refrigeração, sendo requerido o uso de trajes Tipo 1. A indicação de classe de proteção mostra apenas que determinado EPI cumpre com os requisitos mínimos previstos pela norma.
A questão é que no CA não há a obrigação de testar trajes Tipo 1 contra a amônia especificamente. Ou seja, nem todas as vestimentas Tipo 1 encontradas no mercado brasileiro foram testadas e aprovadas contra amônia.
Como, então, saber se um EPI é eficaz contra a amônia?
Testes de permeação
Para responder a essa pergunta, é preciso antes entender que cada componente de uma vestimenta (luva, tecido, bota, visor, entre outros) apresenta uma barreira de proteção específica, ou seja, cada componente deve ser aprovado através dos testes de permeação. O objetivo desses testes é comprovar a barreira de proteção, a nível molecular, que cada material apresenta perante o agente químico.
Os testes de permeação são realizados de acordo com a legislação local. No Brasil, como mencionado, seguimos a norma ISO 16602:2007 cuja norma de permeação estipulada é a EN ISO 6529. No entanto, essa não é a única norma de permeação reconhecida internacionalmente.
Analise e questione
A proteção efetiva do trabalhador brasileiro contra os riscos da amônia exige uma grande dose de responsabilidade da indústria, que precisa analisar se as roupas de proteção química utilizadas efetivamente protegem contra esse composto tóxico.
Para isso, questionar o fabricante do EPI é essencial. Quais testes foram feitos? Foi feito teste para medir a proteção contra amônia? Quais os seus resultados? Por quanto tempo o EPI é capaz de proteger o usuário?
Outro fator importante é garantir que o trabalhador esteja protegido totalmente. Todos os componentes da vestimenta de proteção (como macacão, botas, visor, luvas, entre outros) foram testados? Todos eles oferecem proteção contra a amônia?
Os riscos da amônia no ambiente de trabalho brasileiro provam que, somente com essa consciência, a de se preocupar além dos requisitos mínimos exigidos pela norma, é que será possível proteger efetivamente a saúde e a vida de trabalhadores no país.
*Priscila Akiti é especialista técnica para Tyvek® da DuPont Proteção Pessoal América Latina.