Simpósio Ambientes Seguros colocou em pauta as sinergias entre Segurança e Saúde do Trabalho e a Gestão Ambiental

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O Simpósio Ambientes Seguros, realizado durante a FISP 2022 – Feira Internacional de Segurança e Proteção, colocou em pauta as sinergias entre Segurança e Saúde do Trabalho (SST) e de Gestão Ambiental e a participação dessas duas áreas na adoção dos princípios ESG (sigla em inglês relativa às políticas e aos programas de proteção ambiental, responsabilidade social e governança corporativa). O evento, voltado a gestores e técnicos dessas áreas, foi uma iniciativa das revistas Meio Ambiente Industrial (do Grupo BMComm) e CIPA & Incêndio (Fiera Milano Brasil), com a colaboração da Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg) e da Rede Empresarial Brasileira de Avaliação de Ciclo de Vida (Rede ACV).

“Realizar este simpósio, que une SST e meio ambiente neste momento de retomada presencial da FISP, é mais uma iniciativa alinhada ao compromisso de abrirmos espaço para a discussão de temas atuais e relevantes durante a feira, levando informação qualificada aos gestores para aplicação no dia a dia das organizações”, destacou Regina Silva, diretora de Portfólio & Vendas Internacionais da Fiera Milano Brasil, durante a cerimônia de abertura do evento.

Marcelo Couto, diretor de conteúdos do Grupo BMComm, destacou que o simpósio evidencia a importância dos sistemas integrados de gestão, considerando que, em diversas empresas, as áreas de SST e Meio Ambiente estão na mesma estrutura de gestão em função das sinergias administrativas e operacionais existentes entre elas. “Um exemplo é a realização das semanas internas de prevenção de acidentes (SIPAT), originalmente dedicadas apenas a segurança e saúde do trabalho, que incorporaram o meio ambiente, sendo batizadas de SIPATMA”, disse. “Além dessas convergências, as duas áreas agora também devem estar diretamente envolvidas com as questões de ESG”, pontou.

A importância da atualização dos profissionais das áreas em ocasiões como a FISP e o simpósio também foi destacada pelo diretor executivo da Animaseg, Raul Casanova, e pela editora da Revista Meio Ambiente Industrial, Sofia Jucon, ambos também participantes da cerimônia de abertura, no primeiro dia do evento.

 

Palestras magnas

 

Foram três dias de intensas discussões (18 a 20 de outubro). O primeiro deles foi marcado pela realização de duas palestras magnas. O embaixador Rubens Barbosa convidou auma breve, mas valiosa, reflexão sobre os principais temas ambientais no Brasil e sua importância no contexto global, estimulando os participantes a pensarem sobre “onde estamos e para onde devemos ir?”. Já subsecretário de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Previdência, Rômulo Machado e Silva, traçou um panorama sobre as Normas Regulamentadoras, suas atualizações e objetivos e as mudanças a caminho.

Em sua palestra, o embaixador Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE), considerou que as atuais políticas ambientais brasileiras são prejudiciais aos interesses da nação no contexto mundial, tanto na esfera pública quanto privada. Essa situação, segundo ele, levou o Brasil de volta à situação vivida na década de 1980, quando o País era cobrado por desmatamentos, incêndios e descaso com a preservação ambiental.

“Houve uma mudança entre 1992, a partir da Rio92, e 2018, período em que nos tornamos protagonistas da preservação do meio ambiente. Mais recentemente, vimos tudo retroceder”. Às vésperas das eleições, Barbosa advertiu que o governo deveria avançar nas discussões ambientais para que o País volte a ocupar o lugar de destaque que havia conquistado anteriormente. “Especialmente a política para a Amazônia será fundamental nos próximos anos”, apontou.

Machado Silva, do Ministério do Trabalho e Previdência, enfatizou a importância de melhorias nos ambientes ocupacionais a partir da recente atualização das Normas Regulamentadoras (NRs), “favorecendo a criação de um sistema normativo íntegro, harmônico, moderno e com conceitos claros para garantir a proteção e segurança jurídica de todos, com a geração de emprego e renda”.

O primeiro dia teve ainda um painel sobre sistemas integrados de gestão, que discutiu como as empresas estão lidando na prática com as questões de SST e meio ambiente e como esses temas se relacionam aos princípios ESG. As discussões foram moderadas pelopresidente do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho do Estado de São Paulo (Sintesp), Valdizar Albuquerque, e contou com a participação de Eduardo Machado Homem (diretor da consultoria Do Safety) e Fabio Arruda (gerente de segurança ocupacional da Vale S/A).

 

Novos tempos e o ESG

 

A manhã do segundo dia foi dedicada temas ambientais, iniciando com uma reflexão sobre o papel do gestor ambiental nas organizações, incluindo suas competências, seus desafios e presença no organograma, promovida por Fernando Codelo Nascimento, professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. De forma interativa, ele destacou as projeções para o mundo em 2050 em diversas áreas e orientou os participantes para os novos desafios. “As equipes devem se preparar, pois novos processos serão testados, novas ferramentas serão implementadas, os custos deverão ser reduzidos, os processos serão otimizados e projetos precisam ser iniciados dentro de novos contextos em constante transformação. Atualização e melhorias devem ser contínuas”, frisou.

As discussões depois se voltaram a “Desenvolvimento Sustentável, Agenda 2030, ODS e outros compromissos ambientais” com a palestra de Aron Belinky, sócio-líder da ABC Associados. De forma provocativa, ele questionou o “quão sustentável é o ESG nas organizações”, resgatando o conceito de sustentabilidade e destacando sua constante evolução para reunir, combinar e integrar agendas que possam convergir para o desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária, com base na adoção dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) e, mais recentemente, os Princípios ESG. Ele destacou o processo de construção dessas agendas, seus critérios e diferenças.

De forma didática, Belinky alertou para equívocos relacionados ao ESG, enfatizando que não se trata de uma evolução e nem sinônimo da sustentabilidade, apontando para a origem desses conceitos e dando exemplos de erros comuns que podem colocar a perder iniciativas valiosas.

Depois foi a vez de a gerente de operações da TÜV Rheinland South America, Mayara Zunckeller, mostrar como as certificações ISO podem ser adotadas como ferramentas de gestão, destacando os benefícios e os pilares da boa governança corporativa e os critérios de atuação dos organismos dedicados às certificações.

Para completar o bloco, especialistas discutiram se o ESG é um novo instrumento de gestão ou um novo nome para o guarda-chuva da sustentabilidade. Moderado por Sonia Karin Chapman, secretária-executiva da Rede ACV e membro do comitê curador do simpósio, o painel contou com as contribuições de Monica Bressan (Ledonne Consultoria e Treinamento), Glaucia Terreo (Walk4Good) e dos palestrantes anteriores, Aron Belinky e Mayara Zunckeller.

A expertise dos debatedores no mercado da sustentabilidade mostrou os desafios frente às questões relacionadas a ESG e a transversalidade que o tema apresenta nos diversos setores das empresas. “O painel proporcionou interações muito especiais, discutindo criticamente o propósito do ESG. Contar o que deu certo e o que precisa ser melhorado é essencial”, destacou Sonia Karin Chapman.

 

SST em pauta

 

Na parte da tarde, o foco foram as questões de SST, começando pela importância das campanhas preventivas. A palestrante Viviane Forte, auditora-fiscal do trabalho, disse que a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais é um desafio constante. “O Ministério do Trabalho, por meio de ações educativas no âmbito da CANPAT [Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho], tem se empenhadopara atingir os profissionais e também as crianças, futuros trabalhadores que devem incorporar o conceito de prevenção”, destacou.

Os participantes também puderam acompanhar a apresentação de um case sobre a implantação do conceito de Indústria 4.0 e suas inter-relações com as questões de SST. A apresentação foi conduzida por Victor Araújo (Provest Uniformes & EPI), que relatou a experiência e o caminho percorrido pela empresa, uma confecção de porte médio instalada no interior de Minas Gerais, na implantação de sistemas e ferramentas modernos de produção. Ele mostrou ainda soluções e alternativas tecnológicas para mitigar os riscos de acidentes do trabalho, incluindo câmeras de inteligência artificial e wearables (dispositivos vestíveis), que captam informações e fazem interações em tempo real. “A tecnologia permite-nos dar um passo adiante em controles para garantir a proteção do trabalhador”, comentou.

Para falar sobre eSocial foi convidado odiretor da RSData Rogério Balbinot, que alertou sobre a falta de atenção das empresas sobre o tema. Ele reforçou a necessidade de avaliação crítica das informações de SST antes de reportá-las ao eSocial, para evitar riscos desnecessários de autuação, fazer a gestão adequada de processos e aplicar a metodologia PDCA (planejar, fazer, checar e agir) para garantir a consistência das informações. “Infelizmente, boa parte das organizações ainda não se deu conta dos riscos que correm pela desatenção em relação ao tema, reportando dados incoerentes por falhas na gestão”, disse.

Voltando ao tema das NRs, a programação colocou em foco a NR-6 e o novo Sistema de Certificação de EPIs, com categorização e sem o INMETRO. Coube neste caso aocoordenador de normatização, da Coordenação Geral de SST da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), Joelson Guedes Silva, dar uma aula sobre o tema e explicar o muda na prática para os profissionais de SST.

O segundo dia terminou com apolêmica discussão sobre a terceirização do SESMT. O painel, comandando pelo professor Leonídio Ribeiro, analisou o que prevê a nova NR-4 e seus reflexos. O debate teve a participação de Armando Henrique (presidente da Associação Nacional dos Técnicos de Segurança do Trabalho­­- ANATEST) e do Dr. Francisco Cortes Fernandes (diretor científico da Associação Nacional dos Médicos do Trabalho­- ANAMT).

Ribeiro considera que não há cultura firme em relação à terceirização e defende a necessidade de um empregado, presente na organização, para gerir a área de SST. Segundo ele, esse profissional vivencia o dia a dia epode manter diálogo constante com a direção da empresa e com os trabalhadores. Ele diz que a terceirização valeriaapenas em atividadesde apoio, como assessoria de físicos, higienistas industriais, fonoaudiólogos e advogados, entre outros especialistas. Fernandes, da ANAMT, também ponderou ajustes nas rotinas nas empresas não podem implicar redução na proteção dos trabalhadores. “Aterceirização seria um retrocesso, pois estaríamos precarizando o atendimento médico pela falta de conhecimento do terceirizado em relação a processos produtivos, peculiaridades gerenciais e particularidades do exercício da Medicina do Trabalho”, destacou.

 

Cultura prevencionista

 

Os temas de SST também pautaram a manhã do terceiro dia do simpósio. Todos estavam atentos para acompanhar as explicações sobre o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais, previsto na nova NR-1, dadas pelo pesquisador da Fundacentro Gilmar Trivelato. Ele apresentou os princípios fundamentais do GRO e as lacunas na NR-1, com destaque para seus conceitos básicos e orientações aos gestores de SST nas organizações.

Na sequência, o auditor fiscal do trabalho Luiz Carlos Lumbreras tratou da implantação do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) nos diversos setores produtivos, das pequenas às grandes empresas. “A OIT preconiza que, para melhorar e alcançar um bom sistema de segurança e saúde do trabalho, conforme as Convenções 155 e 187, deve-se observar alguns pilares, como a criação de uma cultura de SST. Isso inclui o desenvolvimento de um sistema de gestão, como é o caso do PGR, com atuação direta dos prevencionistas, profissionais que estão envolvidos com essas questões no dia a dia da organização”, destacou. A adequada gestão de riscos está na base da prevenção.

A cultura prevencionista foi também abordada na palestra da procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) Cirlene Luiza Zimmermann, que apresentou estratégias para estimular a prevenção desde a escola até o chão de fábrica. “Foi uma oportunidade para apresentarmos o projeto Segurança e Saúde nas Escolas, desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho e instituições parceiras, visando a motivar os profissionais da área a realizarem atividades junto às escolas e, dessa maneira,promovera cultura da prevenção desde cedo”, considerou.

Para fechar a programação da manhã foi realizado o painel “Judicialização das questões relacionadas à SST: consequências para o dia a dia dos gestores nas organizações”, com os debatedores Vilma T. Kutomi (Escritório Mattos Filho Advogados), Ivan Rigoletto (engenheiro de segurança do trabalho) e Marcelo de Paula (consultor), e a moderação do Prof. Leonídio Ribeiro. “As jurisprudências devem passar pelo aval dos técnicos especializados da área de Engenharia de Segurança do Trabalho e de Medicina do Trabalho, caso contrário, temos uma afronta à hierarquia das leis, invalidação das normas regulamentadoras, desvalorização da técnica prevencionista e insegurança empresarial”, considerou.

 

Investimentos sustentáveis

 

O bloco final do simpósio voltou a tratar de questões ambientais, com a palestra que discutiu como aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) orientam decisões de investimentos. O tema foi abordado por Annelise Vendramini, professora do mestrado do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces). Ela apresentou mostrou como a gestão da sustentabilidade se tornou um fator importante para a tomada de decisão dos investidores, com exemplos de casos e orientações para os participantes.

Na sequência, a palestra “Relação e Engajamento com Stakeholders: a Responsabilidade Social nas iniciativas ambientais”, foi apresentada por Afonso Gomes, diretor da Horus Gestão Organizacional (HGO), que apresentou ferramentas que podem ser aplicadas por empreendedores que buscam desenvolver seus negócios considerando os diversos públicos impactos por suas atividades e a importância de gerir aspectos relacionados a qualidade, meio ambiente, segurança e saúde do trabalho e a responsabilidade social.

Para finalizar, Leonardo Maglio, consultor de Negócios na Schneider Electric Sustainability Business, falou sobre os compromissos climáticos corporativos à luz dos acordos globais e a COP-27, a convenção da ONU sobre o clima realizada poucos dias depois do evento. Ele mostrou as evidências do aquecimento global e iniciativas para reduzir as emissões no âmbito das atividades industriais.

 

Repercussão positiva

 

‟O simpósio me proporcionou uma gama de conhecimento e projetou a área de SSMA na perspectiva nacional e mundial. Sou responsável por coordenar a área de SSMA de uma empresa no ramo cooperativista, focada na produção de alimentos, e observo que o profissional da área vem ganhando espaço e foco na parte estratégica da empresa”, conta o engenheiro Fernando Almeida Silva, coordenador de SSMA (Segurança, Saúde e Meio Ambiente) da Castrolanda.

“O evento foi muito além do esperado. O conhecimento que trouxe é de grande valia. Já estamos corrigindo aquilo que identifiquei que estávamos executando de maneira errônea e procurando melhorar aquilo que já temos de bom. O horizonte que se abriu é gigante e, com o direcionamento obtido no simpósio, estamos a caminho do sucesso”, considerou Guilherme Freitas, da São Pedro Agropecuária.

“Muito bom o simpósio. Esperamos participar de outros”, avaliou Willian da Costa, técnico em Segurança e Saúde, da Gerência Executiva de Saúde e Segurança e de Saúde, Segurança e Meio Ambiente, do Sistema FIESC/SESI, de Santa Catarina.

 

Reprodução da reportagem publicada na Revista Cipa & Incêndio, edição 504 (novembro/dezembro 2022).

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