Trabalho informal nos lixões: um risco à vida dos catadores

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Por Francisco Oliveira*

A falta da gestão de resíduos vai além dos impactos negativos na economia brasileira e na saúde pública. Trabalhadores informais, mais conhecidos como catadores, recuperam e vendem materiais recicláveis retirados dos lixões – um trabalho nobre e honroso que garante a coleta e triagem de materiais recicláveis, gerando múltiplos benefícios sociais. Porém, que coloca suas vidas em risco.

Para se ter uma ideia da gravidade da situação, de acordo com um relatório da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA) e da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a exposição aos lixões a céu aberto tem um impacto prejudicial sobre a expectativa de vida da população maior do que a malária. A atividade é considerada pelo Ministério do Trabalho como insalubre em grau máximo, pois estão submetidos ao calor, umidade, ruídos, chuva, risco de quedas, atropelamentos, cortes, ao contato com ratos, sobrecarga por levantamento de peso e contaminações por materiais biológicos.

Já o estudo realizado pela Coordenação de Vigilância e Saúde (Covisa), Fundacentro e os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST), analisou as condições de trabalho, saúde e segurança de, aproximadamente, 900 catadores do estado de São Paulo. Na pesquisa, foram encontrados agentes químicos no ambiente de trabalho que causam doenças respiratórias e dermatoses por contato. Além dos riscos de doenças osteomusculares e circulatórias, os trabalhadores, que lidam com prensas enfardadeiras das centrais não possuem proteção, o que traz risco de amputações.

Não bastasse sofrer com todos os riscos e exploração da força de trabalho, os catadores encaram o que chamo de marginalização da profissão, que nada mais é do que o preconceito da sociedade — mesmo sendo os grandes responsáveis pelos altos índices de reciclagem no país. Afinal, eles não carregam lixo dentro das carroças, mas sim, mercadorias.

O que muitos não se dão conta é que, a desvalorização dos catadores é prejudicial ao meio ambiente e para a sociedade, pois além de serem o meio mais eficiente e econômico de garantir a coleta e triagem de materiais recicláveis, geram múltiplos benefícios sociais, econômicos e ambientais.

Mesmo com a situação de precariedade na qual esses trabalhadores vivem, a grande questão é que não existiria reciclagem no Brasil se não fosse o esforço dos catadores. O poder público precisa assumir suas responsabilidades com o meio ambiente, com a população e, principalmente, com esses profissionais. A inclusão social e a formalização da atividade devem ser articuladas a uma política que garanta a segurança e benefícios para essa classe, o que poderia ser incorporado às políticas públicas de serviços, saúde e laboral, desde que estas áreas se integrem, de forma objetiva, para buscar soluções que valorizem e minimizem os danos a estes trabalhadores.

*Francisco Oliveira – engenheiro civil e mestre em Mecânica dos Solos, Fundações, Geotecnia e fundador da FRAL Consultoria.

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