Uso de nanomateriais também envolve prevenção de riscos ocupacionais

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De componentes eletrônicos até aplicações na agricultura, a nanotecnologia já está presente em 20% de todos os produtos manufaturados no planeta, aponta levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT – 2020). “É um dos ramos da ciência que mais cresce, tendo aplicações de nanomateriais nas mais diversas áreas como agrícola, automotiva, construção civil, cosmética, eletrônica, alimentícia, petróleo, saúde, têxtil e também na engenharia ambiental, dentre outras”, informa José Renato Alves Schmidt, tecnologista da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), instituição ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Do mesmo modo que a utilização de compostos químicos, por exemplo, os nanomateriais também incorrem a prevenção a riscos ocupacionais aos trabalhadores que os manipulam. “Hoje, inclusive, existe um ramo da toxicologia chamado de nanotoxicologia. Esse conhecimento científico tem que chegar aos trabalhadores, porque eles ainda têm pouca informação sobre esses riscos”, explica Arline Sydneia Abel Arcuri, também pesquisadora da Fundacentro.

Por conta de seu amplo uso e diversificação, não há números precisos de acidentes que envolvem o trabalho com nanomateriais, o que dificulta estimativas de profissionais expostos aos efeitos ambientais e de saúde dessas tecnologias. Segundo Arline, estudos técnicos já mostram associação a insumos e produtos intermediários na indústria, como dióxido de titânio, fulerenos, nanopartículas de ouro, nanopartículas de prata, nanotubos de carbono e polímeros, e a produtos finais, como chips eletrônicos, displays, filtro solar, roupas inteligentes e sensores gustativos.

“Os nanotubos de carbono, por exemplo, são úteis em materiais plásticos, nas conduções térmica e elétrica e até na medicina. Porém, seu potencial cancerígeno é semelhante ao do amianto, já que o nanotubo de carbono é muito tóxico. Outros nanomateriais podem ser aspirados pelas narinas e chegar ao cérebro do trabalhador. São riscos muito significativos”, endossa a pesquisadora.

 

Gestão dos nanomateriais

 

Segundo a Agência Europeia para a Saúde e Segurança no Trabalho (EU-OSHA), muito embora os benefícios desses materiais sejam constatados, como dito pela pesquisadora Arline Arcuri, os malefícios são ainda um terreno desconhecido para o combate a acidentes e outras demandas aos trabalhadores.

Para tanto, o órgão também se empenha na pesquisa e educação para mitigação de transtornos. A organização alerta sobre os perigos da aspiração desses elementos durante a manipulação e composição dos mesmos. “Além dos pulmões, descobriu-se que os nanomateriais podem afetar também outros órgãos e tecidos, incluindo o fígado, os rins, o coração, o cérebro, os ossos e os tecidos moles”, informa nota.

A EU-OSHA recomenda fortemente o emprego de Equipamentos de Proteção Individual aos colaboradores, bem como a empregadoras providenciem um programa de avaliação e gestão de riscos dos nanomateriais no local de trabalho. “Se a utilização e produção de nanomateriais não puder ser eliminada ou substituída por materiais e processos menos perigosos, a exposição dos trabalhadores deve ser minimizada através da adoção de medidas preventivas”, acrescenta. O órgão conta ainda com um conteúdo rico (em inglês) sobre tipos e utilizações de nanomateriais, incluindo os aspetos de segurança.

 

Estudos

 

Falando em pesquisas, José Renato Alves Schmidt, da Fundacentro, recentemente participou de um capítulo, intitulado “Prevención de Riesgos Laborales: Nanotecnologia y Nanomateriales” (Prevenção de Riscos Ocupacionais: Nanotecnologia e Nanomateriais), na obra “Libro Blanco de lãs Nanotecnologías: una visión ético-social ante los avances de La Nanociencia y La Nanotecnología”, da Universidade de Barcelona, escrito juntamente com as pesquisadoras Miriam Belloc, Anna Francesca Oliete e Mar Viana.

No capítulo, aborda-se metodologias de avaliação de risco para garantir a segurança e a saúde no trabalho, já que estudos quantitativos de exposição às nanopartículas são escassos e não existem regulamentações específicas sobre o assunto, resultando em um gap na proteção laboral e ambiental.

Os autores salientam a necessidade de medidas preventivas em atividades de pesquisa, desenvolvimento e fabricação de nanomateriais que possam minimizar a exposição ocupacional ou evitar o contato direto com o material.  “A substância pode apresentar riscos à saúde devido ao seu tamanho de 1 a 100nm (nanômetros) e propriedades específicas. Nesse sentido, os especialistas relatam no livro que é essencial avançar no conhecimento para identificar as fontes de emissão e seu impacto na exposição ocupacional”, finaliza nota da Fundacentro.

Foto:  reprodução

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