Casos de silicose ocorrem em fábrica de borrachas de silicone
De 15 trabalhadores, nove adoeceram, dos quais dois morreram – um de 27 anos e outro de 51. O número alarmante retrata apenas uma empresa fabricante de borrachas de silicone para panelas de pressão em São Paulo (SP). Os trabalhadores adquiriram silicose subaguda, pois se acrescenta quartzo moído, acima de 98% de sílica livre cristalina, à borracha de silicone para a fabricação dos anéis de vedação desse tipo de panela.
Esse processo gerou exposição intensa à poeira com alta concentração de sílica, que levou ao adoecimento dos trabalhadores. O acúmulo de poeira contendo sílica cristalina nos alvéolos causa a silicose, doença pulmonar incurável. Os tecidos pulmonares são agredidos, ocorre o endurecimento dos pulmões e a dificuldade de respiração, podendo levar à morte.
Os dois primeiros casos foram encaminhados ao Ambulatório de Pneumologia Ocupacional da Fundacentro por um médico do convênio de saúde da empresa. Assim em maio e junho de 2013 foram diagnosticados pelo ambulatório dois casos de silicose pulmonar subaguda acelerada.
Desde então foi iniciado o acompanhamento dos trabalhadores, que envolveu o Hospital das Clínicas de São Paulo, e um processo de investigação para verificar para que a sílica era utilizada. Equipes da Fundacentro, da disciplina de Saúde Ocupacional da Santa Casa de São Paulo e do Centro de Referência de Saúde do Trabalhador – CRST da Mooca visitaram a empresa em julho daquele ano e constataram a exposição. Todos os trabalhadores passaram por exames médicos. Assim se averiguou que a contaminação ia além dos dois casos iniciais.
A Fundacentro visitou outras fábricas de borracha de silicone, que também é utilizada em geladeiras e fogões, para verificar a aplicação de quartzo moído na produção. A questão foi levada ao Ministério Público do Trabalho, que está investigando 44 empresas. Os procedimentos investigativos foram abertos em maio deste ano.
“Tem gente misturando até 70% de quartzo e 30% de silicone. São pequenas e médias empresas com ambientes desorganizados. Não têm PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais). A primeira empresa media a concentração ambiental e constatou que a concentração de sílica era altíssima, mas não sabiam o que fazer com isso. Dois trabalhadores morreram e os outros estão em situação bem grave”, avalia a médica da Fundacentro, Elizabete Mendonça.
Os outros sete trabalhadores estão recebendo tratamento no Hospital das Clínicas, e três necessitam de transplante. “A evolução é rápida, porque a partícula de sílica entra no pulmão. A pessoa fica com falta de ar permanente, e a defesa debilitada, mais suscetível às contaminações”, explica o médico do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas), Ubiratan Santos. Com o tempo, o pulmão se calcifica e não se pode mais fazer o transplante. “É um drama”.
A engenheira e tecnologista da Fundacentro, Teresa Nathan, que também visitou algumas empresas, destaca que o problema é a pureza da sílica. “É preciso proibir que seja utilizada nesta proporção”. A poeira de quartzo está presente nos ambientes de trabalho. Como o custo de sistemas de exaustão é alto, e as empresas são pequenas, é mais viável não se utilizar mais o produto. Também foi constatado o uso da mistura em duas empresas maiores em Guarulhos e em outras empresas da Grande São Paulo.
Todas essas questões foram discutidas em uma reunião no Ministério Público do Trabalho em São Paulo, realizada em 26 de maio, assim como as formas de se solucionar o problema. Participaram representantes do próprio MPT, da Fundacentro, do InCor, da Covisa (Coordenação de Vigilância em Saúde), do Cerest (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador), da Prefeitura Municipal de São Paulo e do Siamfesp (Sindicato da Indústria de Artefatos de Metais não Ferrosos no Estado de São Paulo).
Outra reunião ocorreu em 14 de julho, com representantes do MPT, da Fundacentro, do Siamfesp, do Sindibor (Sindicato das Indústrias de Artefatos de Borracha e da Reforma de Pneus no Estado de São Paulo), do Sintrabor (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Artefato de Borracha, Pneumáticos e Afins de São Paulo e Região) e da Comissão Especial de Estudos de Utensílios Domésticos Metálicos da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Na ocasião, o Siamfesp se comprometeu a fornecer ao MPT a relação das empresas que produzem anéis para panelas de pressão. Já o Sintrabor apresentará um levantamento de dados sobre o uso de sílica no processo produtivo das empresas.
Fonte: Fundacentro