A Saúde Ocupacional e a Medicina do Trabalho são cada vez mais necessárias
Médico do Trabalho, alergologista e professor universitário
O trabalho pode afetar, positiva ou negativamente, a saúde sendo a prevenção dos riscos profissionais, principalmente das doenças profissionais e dos acidentes de trabalho, as suas componentes mais valorizadas, ainda que os fatores profissionais possam influenciar a saúde de muitas outras formas.
O número e a diversidade dos fatores de risco para a saúde (e a segurança) potencialmente existentes num ambiente de trabalho são consideráveis, diversificados e relacionados com a atividade e as condições em que é exercida. Esses fatores são tradicionalmente classificados, consoante a sua natureza, em fatores físicos, químicos, (micro)biológicos, psicossociais e relacionados com a atividade (ergonômicos, para alguns autores). Todas essas cinco categorias de fatores de risco são suscetíveis de causar efeitos adversos para a saúde.
Quem trabalha não deve perder a vida a ganhá-la e, consequentemente, é imperioso que se valorize o trabalho como atividade central da vida humana isenta de riscos profissionais ou, no mínimo, ambientes de trabalho em que o seu controle seja efetivo e em ambientes de trabalho compatíveis com as situações (de saúde) concretas dos trabalhadores.
Cultura da prevenção
Ao longo da vida ativa sabe-se, por exemplo, que a capacidade física, medida através da capacidade cardiorrespiratória, da força máxima voluntária ou da capacidade musculoesquelética, declina com a idade, para não referir a diminuição das capacidades auditiva e visual, por exemplo, mais perceptíveis por todos. Tal determina que as exigências do trabalho e as condições em que o trabalho é realizado sejam concebidas para os trabalhadores concretos que constituem a força de trabalho e não para um estereótipo de “trabalhador médio” a que frequentemente se recorre.
O atual prolongamento da vida ativa determina, consequentemente, ainda um maior investimento na melhoria das condições de trabalho na perspectiva da saúde (e da segurança). De fato, a falência (ou a insuficiência) das intervenções na promoção da saúde no trabalho e na prevenção (médica e ambiental) dos riscos profissionais também pode causar a ocorrência de doenças profissionais e de acidentes de trabalho com os decorrentes danos para a saúde e a necessidade da sua reparação.
O estabelecimento de incapacidades permanentes resultantes daqueles danos causa consequências, por exemplo, de sequelas irreversíveis e também deve determinar a adaptação do trabalho às capacidades restantes dos trabalhadores. O trabalho não pode, por isso, ser considerado imutável devendo adaptar-se aos trabalhadores concretos que o realizam, mesmo em situações, que possam surgir, com necessidades de readaptação, recolocação ou, até mesmo, reconversão. Tal feito exige a organização de serviços competentes e o fomento da criação de uma cultura (ou, pelo menos, de um clima) de saúde (e segurança) nas empresas (e outras organizações) que sirvam essas finalidades.
A perspectiva, muito frequente, de encarar a Medicina do Trabalho como um elemento de seleção ou de controle de absentismo deve ser definitivamente abandonada, quanto mais não seja porque até legalmente tal não é sequer permitido.
Fonte: Healtnews