Doenças silenciosas ameaçam trabalhadores de postos de combustíveis
Além do benzeno, os frentistas encontram no ambiente de trabalho situações que são tão prejudiciais à saúde quanto o produto químico e cancerígeno, composto na gasolina. O alerta foi dado no dia 10 de março durante o I Seminário de Saúde e Segurança do Sul do Estado, realizado pelo Sindicato dos Frentistas do Rio de Janeiro, em Barra Mansa (RJ).
Pesquisas científicas comprovam que trabalhar em pé por várias horas pode ocasionar a formação de varizes. A má vascularização é tão preocupante quanto o benzeno, já que pode levar à morte em consequência do entupimento das veias. Ao expor o assunto, o professor Claude Chambriard chamou a atenção dos trabalhadores para o problema, que muitas vezes só aparece depois da aposentadoria e não é caracterizado doença do trabalho.
Benzeno
Ao falar sobre a “ Exposição Ocupacional ao Benzeno”, o médico do trabalho e coordenador da CNBz (Comissão Nacional Permanente do Benzeno), Carlos Eduardo, destacou a importância da relação do sindicato com os trabalhadores e o desenvolvimento de projetos que orientam a categoria. Com relação a saúde do trabalhador, ele frisou que a exposição ao benzeno acontece de forma agressiva, já que a gasolina contém obrigatoriamente um por cento do produto. Segundo ele, alguns fabricantes de bombas informam que para cada mil litros de gasolina vendidos, 1,3% evaporam. Carlos Eduardo frisou que o problema é grave não só para o trabalhador, mas para a comunidade em geral, já que o vapor da gasolina tem benzeno.
Já o coordenador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Antônio Sérgio de Almeida Fonseca, chamou a atenção para as doenças crônicas, silenciosas, como o benzenismo, que são difíceis de identificar. Segundo ele, a relação da doença se dá por meio da observação de uma rotina de atendimento médico, com a avaliação dos hemogramas e o histórico ocupacional do trabalhador. Ele disse que o trabalhador do posto de combustíveis deve ficar atento a possíveis alterações nos exames hematológicos que podem estar ligadas a exposição ao benzeno.
Ao apresentar sua exposição sobre a pesquisa “Avaliação da Exposição Ocupacional ao Benzeno em Posto de Combustíveis no município do Rio de Janeiro”, o farmacêutico, Leandro Vargas Barreto, técnico da FIOCRUZ, disse que cerca de dois milhões de trabalhadores estão expostos ao benzeno no mundo. Ele destacou que é preciso desenvolver um trabalho com empresas, sindicatos e órgãos públicos para reduzir os riscos de contaminação.
NR-20 e fiscalização
Para o auditor-fiscal do trabalho de Volta Redonda, José Olímpio dos Santos Neto nem todas as empresas estão preparadas para receber e se adequarem as especificações da NR-20, que trata sobre segurança e saúde nos postos de combustíveis. Ao falar sobre a Norma Regulamentadora, ele disse que o Ministério do Trabalho ao fiscalizar os postos do Sul do Estado têm orientado os proprietários sobre a implantação da NR-20. Segundo ele, em virtude do cumprimento das ordens de serviço, o tempo máximo para adequação à norma é cerca de quatro meses.
Aposentadoria especial
Ao falar sobre “Aposentadoria Especial como Direito Para os Trabalhadores dos Postos de Combustíveis”, o presidente do Sindicato dos Frentistas de Niterói e advogado Alexandro Silva, destacou que comprovar a aposentadoria especial não é tão fácil como se imagina. De acordo com ele, o frentista nunca se enquadrou na aposentadoria especial por categoria, mas sim pelo agente nocivo. Ele afirmou que é mais fácil conseguir a aposentadoria especial pela exposição ao ruído do que por agentes nocivos.
Inclusão de deficientes
Ao palestrar sobre a inclusão de deficientes no mercado de trabalho, o médico e auditor-fiscal, Narciso Guedes, disse que as barreiras físicas não são difíceis de serem superadas, mas as de semelhança sim. “ O difícil não é aceitar o outro, mas se ver no outro, pois somos frágeis e vulneráveis a uma série de fatores. Assim surge a resistência para dar oportunidade de trabalho ao deficiente”.
Abertura
Os trabalhadores de todo o país devem se unir para evitar que projetos que retiram direitos sejam aprovados no Congresso Nacional. Na abertura do I Seminário de Segurança e Saúde do Sul do Estado, o presidente do Sinpospetro-RJ, Eusébio Pinto Neto, disse que o momento atual do país requer a união da classe trabalhadora. Ele chamou a atenção para as mudanças que estão sendo preparadas e citou como exemplo as alterações na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Segundo ele, desde a abertura democrática, o país não vivia um momento tão difícil, de incertezas políticas e ataques aos direitos dos trabalhadores.
Eusébio Pinto Neto informou que a rotatividade da mão de obra e a distribuição geográfica das empresas dificultam o trabalho de conscientização sobre os riscos de acidentes e danos à saúde provocados pela exposição no ambiente dos postos de combustíveis. Ele afirmou que a educação é o caminho para esclarecer a categoria e tornar o ambiente de trabalho mais seguro. Eusébio informou que o grande objetivo do seminário é propagar as informações apresentadas no evento. “ O trabalhador precisa tomar consciência dos seus direitos e cobrar das empresas o cumprimento das normas de segurança que garantem a extensão da vida. A qualificação é muito importante para valorização da mão de obra”.
Acidentes
Trabalhadores e palestrantes presentes ao seminário fizeram um minuto de silêncio em memória dos funcionários de postos de combustíveis, que morreram na última semana, em consequência de explosões. Júlio César Oliveira morreu na no dia 7 de março, após ficar seis dias internado por causa de uma explosão no posto em que trabalhava, em Vila Velha Vitória (ES). O acidente aconteceu quando ele retirava gasolina de um carro. Em Recife (PE), Geival Antônio da Silva, também foi vítima fatal de uma explosão enquanto limpava o tanque de combustível.
Fonte: Assessoria de imprensa Sinpospetro-RJ