Modernização dos processos torna o caminho possível para a telemedicina na SST
O período de isolamento imposto pela Covid-19 abriu caminho e desdobramentos para o uso da tecnologia em prol de diversas áreas e na Saúde e Segurança do Trabalho (SST) não foi diferente. Uma delas é telemedicina ocupacional, em que a emissão de laudos e consultas online se expandiram.
Aliás, a modalidade de medicina não é algo novo, já que meados dos anos 2000 foi publicada a Resolução CFM 1.643/2002, argumenta o cardiologista José Aldair Morsch, diretor técnico da Morsch serviços de telemedicina, em Erechim, RS. “O debate hoje gira em torno da autorização a realizar exames do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), ou seja, sem que o médico do trabalho avalie o empregado pessoalmente”.
Telemedicina hoje
Segundo ele, após o período de restrições, a telemedicina ganhou nova regulamentação a Resolução CFM 2.314/2022, que passou a autorizar a teleconsulta. “Nesse cenário, especialistas refletem que funcionários de empresas com grau de risco 1 (baixa frequência de acidentes de trabalho) podem ser avaliados em consulta online”, responde.
Com a digitalização dos procedimentos é possível a elaboração de documentos sendo o prontuário eletrônico um dos mais pertinentes, já que possui histórico de saúde, medicamentos, fórmulas e prescrição acessada via QR Code, o que inclui o telediagnóstico e assinatura médica digital.
Morsch também ressalta que para o êxito dessa atividade, a mesma precisa estar condizente com as Normas Regulamentadoras, preservando as informações do paciente e salvaguardando-as conforme as diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Em transformação
Com a modernização dos processos, o que inclui a implantação do eSocial, esses setores devem acompanhar essas transformações tecnológicas em prol da precisão dos diagnósticos corretos aos trabalhadores. “É importante que medicina diagnóstica esteja dentro dessa cadeia, uma vez que não dá para falar em gestão, promoção e tratamentos de saúde sem diagnósticos. Com isso, o diagnóstico acaba sendo o começo, meio e fim de tudo”, destacou Milva Pagano, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), em webinar sobre saúde ocupacional.
Em si tratando de SST, Pagano observou que com os avanços, a relação empresa e Medicina do Trabalho, que outrora se resumia ao cumprimento da realização de exames admissionais e demissionais, por exemplo, avança com a implantação de programas de qualidade de vida no ambiente laboral. “As empresas estão implantando programas mais bem-sucedidos em gestão da saúde que tem a área da saúde ocupacional envolvida ou até mesmo liderando as ações. Isso representa um forte indicador de sucesso nos programas de gestão de saúde corporativa”, afirmou a executiva.
Tendências
O uso da Inteligência Artificial (IA), a coleta e análise de dados e a interoperabilidade de informações, quando ocorre a interação de sistemas e instituições de maneira eficaz e eficiente, são algumas das tendências já presentes do segmento e que futuramente se expandirão. O tema foi discutido no 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria, promovido Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em setembro último.
Sobre essa última tendência, está presente na saúde pública: Ministério da Saúde integra os dados de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) com o aplicativo ConecteSUS. Por meio do dispositivo é possível o paciente acessar a carteira nacional de vacinação digitalmente e se está com o esquema vacinal completo.
Muito embora esses processos digitais preconizam a telemedicina em todas as suas esferas, não se pode deixar de lado o fator humano nessas questões. Denizar Vianna, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, disse no evento que se devidamente desenvolvido, o conceito de interoperabilidade promoverá melhorias significativas na saúde do país. “Falamos de IA e conexão dos dados, mas precisamos transformar essa massa de informação para que possamos fazer, de fato, uma gestão na saúde”, destacou.
E concluiu: “a saúde vai ser sempre capital dependente. E a pergunta principal não é o quanto estamos gastando, mas sim se estamos gastando de forma adequada esse recurso. E, para isso, nós vamos precisar lançar mão de todas essas inovações”.
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