PGR: Uma velha forma de fazer – Um jeito novo de pensar
Por Cosmo Palasio de Moraes Jr.
Sócio-diretor da CP Soluções em Prevenção; técnico de segurança do trabalho, tem formação complementar em Higiene e Ergonomia; é Lead Assessor e auditor de saúde/segurança e qualidade; coordenador do grupo virtual e-group SESMT e outros sites ligados a SST; consultor e palestrante na área
O saber pode ser muitas coisas – o entender como aplicar o saber outras tantas mais – o compreender para que serve alguma coisa é, sem dúvida, uma das partes essenciais do saber.
No Brasil a questão do saber quase sempre é um grande problema que, via de regras, causa grandes danos tentando fazer a coisa certa. Há uma distância imensa entre o que se sabe e aquilo que precisa ser utilizado e, por conta disso, nos perdemos em meio a teorias, tentativas e seus altos custos. Há muitos canhões sendo utilizados em espaços onde, com um pouco de sensibilidade e realidade, um mero estilingue resolveria o problema.
Há uma necessidade urgente de desaprender. No país das fórmulas prontas e seus inúmeros formulários, ainda não perdemos a velha e boa mania de tentar resolver tudo como se a vida fosse um grande cartório: Temos papel para quase tudo e, infelizmente, a maioria deles quase sempre tem pouca serventia prática. E assim, vivemos de papel em papel, de modelo em modelo, uma plena frustração diante das soluções que não chegam.
Não há nenhuma grande novidade no modelo de gerenciamento de riscos. Isso é assim desde muito tempo. E onde consegue sair do papel também, desde muito, apresenta ótimos resultados. Também faz tempo que dentro das Normas e Diretrizes para Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho existe um simples e tenro conteúdo esperando pessoas capazes de interpretá-los e aplicá-los, não apenas como mais uma mera formalidade, mas como algo vivo e contínuo, capaz de, ao longo de determinado tempo, trabalhar soluções organizadas e consistentes. Isso, na prática, quer dizer que as rodas já foram inventadas há muito tempo, o que ainda não tivemos ou temos são humanos capazes de fazer com que elas efetivamente girem. Pior ainda é que, muitas vezes, notamos em diversos locais que o tempo dedicado a gerar imensas pilhas de papéis poderia ser o mesmo aplicado a fazer com que as mudanças existissem, mas faltam preparos, interesse e capacidade para fazer com que seja assim. Preencher um formulário, de fato, é muito menos desgastante do que processos de negociação, do que preparar pessoas para que atuem de formas diferentes, entre tantas outras questões.
É sempre muito perigoso o encontro de inteligência, seja de que forma for; seja qual conteúdo tenha, com simples hábitos de burocracia técnica, infértil, mas tranquila para aqueles que dela cuidam e vivem.
O conteúdo do Programa de Gerenciamento de Riscos é o extrato de práticas que há décadas grandes organizações praticam. Tratar a segurança e saúde no trabalho de forma estruturada, organizada e planejada, pode parecer algo muito simples para aqueles que vivem, há muito tempo, dentro de outra cultura. Aqui, no Brasil, teremos, antes de qualquer coisa, que desconstruir a nossa forma emergencial e desesperada de tratar a questão e, isso precisa ser feito com todos os cuidados necessários para uma transição que envolve saúde e vida das pessoas.
Experiência de outros países
O PGR é a base para um novo começo – mas não há novo que sobreviva em meio a tantas formas velhas e solidificadas, às cabeças e formas de agir de tantas pessoas. Muitos dos nossos empregadores estão acostumados a ideia de uma segurança do trabalho estática e limitada à compra de papéis. Muitos de nossos trabalhadores perderam, ao longo do tempo, dentro desse mesmo modelo, a ideia de uma prevenção mais completa e que passasse pelo menos dois passos adiante do modelo da proteção individual e das meias horas de treinamento. Pior ainda é que boa parte dos nossos especialistas não têm a mínima ideia do que fazer depois da última página desse ou daquele programa ou documento.
A Segurança e Saúde no Trabalho brasileira estão doentes!
A ideia essencial do PGR é que todos pratiquem, pelo menos, a identificação dos perigos dos seus negócios e atividades, avaliem seus riscos e definam a prioridade das ações a serem tomadas, conforme os níveis de risco ocupacional. E, desde muito, isso deveria ser assim. Dentro dessa ideia e, seguindo experiência de outros países, essa atividade deveria ou, deve ao longo do tempo, ser feita pelos responsáveis das organizações de tal forma a contribuir para que exista, por parte deles, interesse, atenção e compreensão sobre um básico gerenciamento de riscos. Para que isso ocorra, o PGR não pode e nem deve ter o grau de sofisticação que muitos insistem em dar a ele. E nós precisamos compreender isso em nome da ideia de que isso pode mudar muitas coisas de forma positiva
Muita gente me diz: “mas se for assim, nós iremos perder atividades e trabalhos”, quando na verdade não é bem essa a realidade. O PGR, na forma em que é apresentado, tira, ainda parcialmente, das mãos dos especialistas algumas atividades, mas, sequencialmente, as devolve em maior quantidade, pelas demandas necessárias em termos avaliações, laudos, programas, treinamentos, que, com certeza, tendo mais organizações fazendo o que está proposto na NR-1, irão existir em maior quantidade. Mais organizações identificando perigos, avaliando riscos e os classificando, quer, na realidade, dizer mais necessidades quanto, por exemplo, a adequação das medidas de controle.
Interessante que o PGR, na verdade, vem nos ajudar a concretizar um anseio dos profissionais especializados, quanto a ideia de que o problema do gerenciamento dos riscos não é nosso, mas, sim, do “dono do negócio”. A nós cabe a atuação técnica especializada para aquilo que ele – o dono do problema – tem necessidades para adequar seus níveis de riscos ocupacionais.
Simplicidade
Portanto, vamos dar sentido e vida ao PGR, reformando nossas formas antigas de ver e pensar a prevenção. Vamos crescer como área técnica, trabalhando e atuando naquilo que de fato é nossa missão: aplicar conhecimentos para eliminar, reduzir ou controlar.
Um bom PGR é aquele que o gestor compreende e, por si, chega à conclusão de que algo precisa ser feito e, não aquele documento exageradamente complexo, e cheio de citações de leis, portarias, normas etc.
Um bom PGR resume em algumas páginas – daquilo que se denomina INVENTÁRIO – um diagnóstico simples, que associa as atividades realizadas, os problemas que elas podem causar às pessoas, o que já existe para evitar que isso ocorra e, deixando espaço para que o deve e pode ser feito, para trazer aquelas situações para condições, pelo menos, aceitáveis de, tal forma, que possam ser realizadas sem expor a vida e saúde de pessoas.
Nós, brasileiros, temos dificuldades com coisas simples, até porque tudo por aqui carece de caminhos e descaminhos para que se resolva.
Nós, profissionais especializados em segurança e saúde no trabalho, temos dificuldades em compreender que a prevenção precisa ser dinâmica: não é o papel que salva vidas e preserva saúde! É o que está escrito nele quando posto em prática!
Paremos com os exageros.
Façamos uma boa e interessada leitura da NR-1.
Tenhamos o discernimento para entender os limites e simplicidade do PGR e façamos aquilo que é preciso, para o contexto para o qual se aplica.