Saúde do trabalhador pode ser afetada pela má organização das tarefas, alerta especialista

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 (por Débora Luz)

Na edição de setembro, a revista Cipa traz uma entrevista com a médica Maria Maeno, formada pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). Ela fez residência em Moléstias Infecciosas, mas logo ingressou na Saúde Pública. A especialista começou a ter contato com o mundo do trabalho quando prestou concurso para a Secretaria de Estado da Saúde e passou a fazer parte do Programa de Saúde dos Trabalhadores da Zona Norte, experiência pioneira na cidade de São Paulo de intervenção do sistema de saúde nas condições de trabalho. O programa foi o embrião do Cerest/SP (Centro de Referência em Saúde dos Trabalhadores do Estado de São Paulo) e, em conjunto com vários outros centros e núcleos de referências, criou-se a Renast (Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador). No Cerest/SP, que coordenou durante 16 anos, teve experiência em organizar sistema de vigilância em saúde do trabalhador em diversos ramos econômicos, testou métodos de abordagem de casos (de empresas e de trabalhadores) atendendo pacientes com doenças ocupacionais, organizou modelos de assistência a trabalhadores com dor crônica, bem como programas de formação de profissionais de saúde, apoiando ainda a formação de serviços de saúde do trabalhador. Essas experiências foram relatadas em dois livros, um deles publicado em 1989, “Programa de Saúde dos Trabalhadores da Zona Norte, uma experiência em Saúde Pública” e o outro, em 2005, “Saúde dos Trabalhadores no SUS, aprender com o passado, trabalhar o presente, construir o futuro”. Desde 2005 na Fundacentro, Maeno desenvolveu projetos e atividades de pesquisa, formação, apoio ao Cerest, além de articulação com diversos setores da sociedade.

O adoecimento pode estar relacionado à organização do trabalho?
As empresas adotam formas de organização e gestão do trabalho sem considerar as características humanas dos trabalhadores. A direção estipula unilateralmente metas de produtividade, procedimentos, formas de executar as atividades de trabalho, sem levar em conta o trabalho real a ser feito e as exigências ao trabalhador. Assim, os trabalhadores ficam sobrecarregados, tendo que atingir metas crescentes, induzidos a se isolar, sentindo-se desvalorizados, submetidos a situações de humilhação e assédio moral.

As empresas ainda costumam colocar a culpa dos adoecimentos nos trabalhadores?
A culpabilização da vítima, seja o acidentado seja o adoecido, é tradicional no Brasil. As práticas de tolerância excessiva de nossa sociedade e do aparato de Estado com as mortes e adoecimentos pelo trabalho fazem com que as empresas adotem posturas de responsabilizar os trabalhadores pela sua segurança e saúde, elegendo os equipamentos de proteção individual como recursos prioritários para prevenir acidentes e doenças. Não se leva em conta a organização e gestão do trabalho, que são considerados de decisão exclusiva da empresa. Partimos do pressuposto de que na ocorrência de acidentes e doenças não há um culpado, há uma organização do trabalho que propicia a ocorrência de acontecimentos que desencadeiam acidentes e adoecimentos.

 

Clique aqui e confira a entrevista na íntegra na edição 444 da revista CIPA

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