Trabalho flexível, longevidade e sociedade 5.0

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Por Tiago Alves*

A expectativa de vida global está crescendo a passos agigantados desde a década de 1960. Hoje, um jovem de 20 anos tem 50% de chance de viver até 100. Se você tiver 60 anos, tem uma chance igual de chegar a 90. Uma vida longa pode ser um presente, mas também impacta nosso estilo de vida, em particular, como planejamos nossa carreira e finanças.

É claro que o aumento de expectativa de vida é um presente, mas traz inúmeros desafios para uma sociedade que ainda não está preparada para lidar com esses profissionais que o mercado corporativo está descartando por questões de idade. Levando em conta esse e outros aspectos, nasceu no Japão o conceito de Sociedade 5.0.

A Sociedade 5.0 nasce como uma iniciativa conjunta do governo japonês e a comunidade empresarial para enfrentar o envelhecimento rápido da população. O movimento, que visa revolucionar o mundo corporativo, busca repensar o modelo de sociedade, tornando-o inclusivo e centrado no bem-estar da população. Na indústria 4.0, o centro eram as máquinas e a tecnologia, já na Sociedade 5.0 é o ser humano e por isso é preciso repensar as relações das pessoas com o trabalho.

A vida se reduz a estudar, trabalhar e se aposentar?

No esquema tradicional, a vida era dividida em três fases distintas: educação, trabalho e aposentadoria. Esse modelo fez sentido para as gerações anteriores, que ingressaram no mercado no final da adolescência, se aposentaram por volta dos 60 e poucos anos e talvez muitos morreram aos 70 anos. Atualmente, o cenário é bem diferente.

A expectativa de vida aumentou. Hoje, está em 80 anos para as mulheres e 73 anos para os homens, conforme um recente levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso pode significar uma vida profissional de mais de 50 anos, portanto, aquele modelo de vida dividido em três etapas precisa ser reconsiderado, pois é obsoleto.

Neste novo cenário, é provável que o período de educação no início da vida não seja mais suficiente para sustentar uma carreira por tanto tempo. A evolução tecnológica dos últimos anos evidenciou a falta de habilidades, preparo e conhecimentos de muitos profissionais. Essas falências fizeram com que cada vez mais pessoas passassem a se atualizar por meio de programas educativos inovadores de curta duração e espaços de troca de conhecimento.

Levando em conta essa nova dinâmica, os especialistas estão defendendo um novo modelo de vida dividido em vários estágios. No futuro, os indivíduos serão incentivados a tirar um tempo do local de trabalho para desenvolver novas habilidades e conhecimentos. Talvez, eles sejam motivados a vivenciar uma nova fase de exploração na vida. Nessa nova etapa, será essencial construir novas experiências, assim como fortalecer suas redes profissionais e pessoais, uma vez que elas os ajudarão a navegar entre os diferentes estágios da vida.

Diferentes gerações em um mesmo ambiente de trabalho será o futuro

Entramos e saímos da educação com pessoas da mesma idade que nós e, na maioria das vezes, subimos a escada profissional na mesma proporção. Os empregadores gostam dessa certeza e previsibilidade e, querendo ou não, a idade ainda tem sido usada como marcador de experiência e para políticas de desenvolvimento e promoção.

Mas, conforme o modelo de vida de três estágios for se extinguindo, uma preocupação entre os gestores de Recursos Humanos passará a ser o relacionamento entre profissionais de diferentes gerações em uma mesma empresa. Novos cenários e oportunidades se tornarão possíveis. Por exemplo, daqui a uns anos será bem normal encontrarmos um estagiário de 40 anos que está fazendo uma mudança de carreira ou mesmo um trainee de 70 anos. A idade não será mais um critério de contratação e os profissionais de RH terão que trabalhar mais para garantir que as necessidades dos colaboradores sejam plenamente atendidas.

O papel da flexibilidade

Uma vida de 70 anos tem 611.000 horas para usar e gastar. Para uma vida de 100 anos, isso aumenta para 873.000 horas. Porém, quantas dessas horas de fato são horas produtivas? Os colaboradores têm um papel essencial nessa decisão, uma vez que precisam cuidar da sua saúde, ao mesmo tempo que devem manter suas habilidades e contatos profissionais.

No entanto, as empresas também têm um papel importante a desempenhar, zelando pelo bem-estar dos funcionários e orientando-os em quesitos como o gerenciamento do tempo, eficiência e produtividade. Além disso, não devem ter medo de incentivar os funcionários a gastar tempo fora do ambiente de trabalho para treinar e se aperfeiçoar.

A longevidade da população, a evolução tecnológica e a Sociedade 5.0 já estão gerando transformações significativas no mundo corporativo. Já podemos ver muitas pessoas mudando de carreira, novas profissões surgindo e pessoas prestes a se aposentar alterando seu rumo profissional. Espera-se que com essas transformações, a demanda pelo trabalho flexível se intensifique, uma vez que as pessoas estão buscando novos caminhos para percorrer tanto na sua carreira como na sua vida.

A vida profissional se estenderá até mais de 50 anos e o trabalho flexível terá um papel vital nessa nova era, uma vez que ajudará a evitar o desgaste, reduzir o tempo de deslocamento e aumentar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. É importante destacar que essa modalidade de trabalho também permite ter espaços para aprimoramento de habilidades, o que facilitará a reciclagem de talento, beneficiando funcionários e empregadores.

Lembre-se que uma vida de 100 anos pode ser um presente. No entanto, para garantir isso, é necessário repensar como abordamos o dia a dia e, em particular, como a estratégia de negócios se encaixa no futuro da sociedade.

Tiago Alves – CEO do International Workplace Group (IWG), detentor das marcas Regus e Spaces no Brasil.

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