Exposição dos trabalhadores à sobrecarga térmica é tema de dissertação

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Os trabalhadores rurais do cultivo da cana-de-açúcar, além de desenvolverem atividades sob péssimas condições de trabalho, são submetidos a um alto risco de estresse térmico no estado de SP, é o que aponta o trabalho realizado pelo engenheiro Mecânico da Fundacentro de Campinas, Rodrigo Cauduro Roscani, ao apresentar sua dissertação de mestrado.

O setor sucroalcooleiro é um dos principais da economia agrícola nacional, e o Brasil aparece como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Somente no ano de 2014, a produção no país superou os 700 milhões de toneladas, de acordo com o IBGE.

Os altos valores de IBUTG, aliados ao grande calor interno gerado pela atividade física exercida pelos trabalhadores da cana, favorecem o risco de sobrecarga térmica, podendo gerar confusão mental, câimbras, desmaios e até levar os trabalhadores à morte nos casos mais extremos.

Buscando quantificar o risco de exposição à sobrecarga térmica dos trabalhadores da cultura de cana-de-açúcar, o engenheiro realizou estudo descritivo e retrospectivo. Os resultados de frequência em função do IBUTG foram apresentados especialmente para o estado de SP, com base em dados de uma série histórica de setembro de 2010 a agosto de 2014. Para tanto, Rodrigo considerou os tipos de atividade (leve, moderada e pesada), previstos na legislação e utilizou dados de IBUTG estimados a partir de observações meteorológicas. Estes dados são processados e disponibilizados pelo software “Sobrecarga Térmica”, desenvolvido pela Fundacentro em Campinas, podendo ser consultado no site da Fundacentro.

Os resultados da pesquisa do engenheiro foram apresentados por meio de mapas com o percentual de dias em que o limite legal de tolerância do IBUTG é extrapolado em período de 1 a 8 horas. A extrapolação destes limites requer a adoção de medidas preventivas para a continuidade do trabalho exercido pelos trabalhadores no cultivo da cana.

Com base em revisão da literatura, a dissertação aponta situações de trabalho totalmente desfavoráveis a esses trabalhadores. Há, por exemplo, riscos referentes à exposição à fuligem, resultante da queima da palha da cana. Além disso, o transporte para o local de trabalho (campo) é inadequado, a alimentação é deficitária e em geral há péssimas condições de higiene e instalações sanitárias no ambiente de trabalho.

A revisão também mostrou dados da movimentação física do cortador de cana, que chega a realizar quase 4 mil flexões de coluna diárias. Também são abordados importantes fatores de organização no trabalho que, consequentemente, implicam em um ritmo acelerado de produção.

Relevância do trabalho
Para o professor da Faculdade de Saúde Pública, Rodolfo Vilela, convidado para participar da banca examinadora, o trabalho de Rodrigo apresenta um tema muito relevante. Vilela pondera ainda que o aquecimento global impõe uma forte tendência de aumento da temperatura no mundo, afetando ainda mais a saúde do trabalhador. Ao citar um artigo que dá grande importância à produção e aos grandes investimentos do setor, destaca que muito se fala da “saúde da cana”, mas pouco se trata da “saúde do trabalhador”.

O engenheiro da Fundacentro de Campinas foi orientado por Daniel Pires Bitencourt, tendo como coorientador, Álvaro César Ruas. A banca foi composta pelos professores Irlon de Ângelo da Cunha e Rodolfo Andrade de Gouveia Vilela.

Fonte: Fundacentro

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