Laboratório da USP analisa risco na utilização de nanomateriais
Em função de sua pequena dimensão, os nanomateriais apresentam propriedades especiais e, dependendo de suas características, podem também manifestar efeitos quânticos, especialmente quando seu tamanho atinge dimensões inferiores a 10 nm.
Se essas propriedades propiciam novas funcionalidades, é sempre bom lembrar que não existe tecnologia que não contenha algum tipo de risco.
“O que é importante é a definição do nível aceitável, e que os resultados sejam avaliados de forma dinâmica, incorporando-se às novas descobertas de modo que o benefício para todos seja maximizado e os riscos minimizados”.
A avaliação é do professor Guilherme Frederico Bernardo Lenz e Silva, pesquisador do Laboratório de Moagem de Alta Energia, Materiais de Carbono e Compósitos para Altas Temperaturas (LM²C²) da Escola Politécnica (Poli) da USP, que tem como uma de suas linhas de pesquisa a análise de risco e tomada de decisões visando ao uso seguro de nanomateriais – com foco na saúde, na segurança e no meio ambiente.
Mercado seguro. As novas funcionalidades têm possibilitado avanço tecnológico em ritmo acelerado, sendo que 1 trilhão de dólares em nanomateriais foram comercializados só em 2013, segundo estudo realizado pela empresa Lux-research.
Por maiores que sejam as cifras, no entanto, também é essencial à indústria pensar na segurança das pessoas envolvidas nesta produção. E a preocupação com os riscos deve ser ainda maior ao lembrarmos que o trabalhador está exposto aos nanomateriais em sua forma mais pura, em grandes concentrações e por um período de tempo maior, quando comparado aos consumidores em geral. As possíveis rotas de contaminação e exposição precisam ser conhecidas por meio da avaliação das atividades em conjunto com medições da concentração e caracterização dos nanomateriais no ambiente.
De acordo com o professor, o controle das condições do local de trabalho, do grau de exposição e a avaliação do nível de contaminação nem sempre são feitos de maneira apropriada. Há a necessidade, por exemplo, de novos equipamentos e ferramentas com capacidades e resoluções mais precisas para a detecção das partículas nanométricas em menores concentrações no ambiente.
A maioria das novas empresas possuem poucos recursos financeiros, conhecimento ou pessoal especializado na área de segurança, especialmente quando se trata do controle dos riscos envolvidos com o manuseio, estocagem, incorporação e descarte adequado dos nanomateriais.
Legislação. A adaptação das leis, na maioria dos países, acontece de maneira mais lenta em relação ao desenvolvimento tecnológico. Neste campo, a evolução do debate, a participação e o engajamento do público, do setor empresarial e dos diversos níveis de governo é o que impulsiona a evolução das normas.
Nos Estados Unidos há diferentes tipos de atuação na mudança da legislação em relação a nanotecnologia. No nível federal, as principais agências reguladoras têm trabalhado para a adequação das normas existentes com apoio de projetos orquestrados pela NNI (National Nano Initiative).
No Brasil, várias discussões começaram a ser realizadas a partir de 2009, pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com a criação de grupos de trabalhos sobre o tema. Porém, ainda não há previsão de mudança da legislação.
Segundo o pesquisador, contudo, mesmo não existindo legislação “nanoespecífica”, as várias leis, decretos, normas e mesmo a Constituição Brasileira já apresentam elementos que protegem a sociedade e o meio ambiente de eventuais desvios e danos do desenvolvimento tecnológico.
LM²C². Um dos principais trabalhos do LM²C² no momento é a criação de uma plataforma para facilitar a busca e o acesso às informações sobre saúde, segurança e meio ambiente e para a condução de análise de risco da nanomateriais. Chamada de HSEnano®, a plataforma está em fase de testes, mas algumas funcionalidades já estão disponíveis gratuitamente por meio do website.
Além do foco na segurança, outras pesquisas do LM²C² trabalham com a síntese, modificação e incorporação de nanomateriais de carbono em compósitos refratários para aplicações em metalurgia e siderurgia.
O docente ressalta que o laboratório da Poli mantém uma rede de colaboração e pesquisa com diferentes universidades e instituições nacionais e internacionais. “No Brasil, fazemos parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanomateriais de Carbono, e da Rede de Nanotoxicologia Ocupacional e Ambiental, ambos financiados com recursos do CNPq”, finaliza.
Fonte: Universidade de São Paulo
(*) A Revista Cipa produziu uma matéria especial sobre o tema na edição 425, intitulada como “Nanotecnologia: entre benefícios e riscos – Até que ponto há impacto na saúde e segurança do trabalhador?”. Confira!