Curso no RS capacita a evitar incidentes de trabalho
Ao se inserir em um ambiente de trabalho, o funcionário fica exposto a riscos potenciais que podem prejudicar a saúde. Para evitar que o trabalhador se machuque, as empresas procuram auxílio de profissionais que adaptem o local a fim de prevenir acidentes. Entretanto, a oferta de capacitados é muito menor que a demanda das empresas.
Somente entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano, 3.982 novas empresas de diversas naturezas foram criadas no Estado. Cada uma, se possuir mais de funcionários, é obrigada, por lei, a possuir um médico trabalhista próprio ou conveniado à disposição para fiscalizar a saúde dos funcionários. O Rio Grande do Sul possui 40 mil médicos formados e cadastrados no Cremers (Conselho Regional de Medicina do Estado). Destes, 30 mil seguem atuantes. No entanto, a Sogamt (Sociedade Gaúcha de Medicina do Trabalho) registra apenas 500 profissionais habilitados para exercer a função de médico do trabalho.
Para o diretor da Amrigs (Associação Médica do Rio Grande do Sul), Dirceu Rodrigues, a escassez de especialistas se deve ao pouco valor dado à profissão. Entre junho de 2001 e outubro de 2014, os auditores fiscais do trabalho vinculados ao Ministério do Trabalho e Emprego realizaram 22.796 análises de acidentes e doenças do trabalho. Para Rodrigues, não há efetivo suficiente para uma fiscalização eficaz. “É difícil presumir que todas as empresas sejam monitoradas. Assim, sabendo que o trabalho não é realmente valorizado, os médicos perdem o interesse na área”, explicou. Há também apenas uma residência médica na área disponível no Estado, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. São apenas duas vagas por ano.
A Portaria 2.018 de 23 de dezembro de 2014, do Ministério do Trabalho e Emprego, exige que esses profissionais da saúde que integram o Serviços Especializados em Engenharia de Sesmt (Segurança e em Medicina do Trabalho) possuam registro de especialista em Medicina do Trabalho, conforme os instrumentos normativos do CFM (Conselho Federal de Medicina). A ABM (Associação Brasileira de Medicina) é responsável pela concessão da habilitação por meio de uma prova que é feita anualmente. A deste ano ocorre no dia 25 de abril.
De acordo com o Fundacentro do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), durante o ano de 2013, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) registrou 717,9 mil acidentes de trabalho. Comparado com 2012, o número teve um aumento de 0,55%.
De acordo com Rodrigues, a função do médico do trabalho é a medicina preventiva. “Os objetos em uma empresa, as cadeiras, as mesas, são todas iguais, desenhadas de maneira idêntica. Mas as pessoas que vão utilizá-los são diferentes e possuem particularidades. Nosso olhar pretende incluir uma melhora no nível de conforto dos trabalhadores”, comenta. Assentos, teclados e demais equipamentos que são utilizados diariamente podem causar danos a longo prazo, como tendinite e dor nas costas. Ao trabalhador exposto a ruídos altos, é indicado que se use um protetor, uma vez que a utilização de maquinaria impede que o barulho seja eliminado. “É tudo uma questão de adaptação. Se não é possível erradicar o distúrbio, podemos minimizá-lo.”
É pensando em aumentar o número de profissionais capacitados que a Amrigs, em parceria com a Abrh-RS (Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio Grande do Sul) e a Sogamt, promove um curso preparatório para a prova de especialização. “Agora, a lei exige que o profissional seja especializado em Medicina do Trabalho, não basta apenas ser um médico. Por isso, é importante revisar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Medicina para aplicá-los à área específica”, esclarece.
Os riscos aos quais estão submetidos os trabalhadores se encaixam nas categorias de físicos, biológicos, químicos e ergonômicos. Para Rodrigues, é mais difícil estabelecer relação entre trabalho e doenças mentais ou psicológicas. “Sabemos que o empregado pode ser submetido a mais trabalho do que ele tem capacidade de fazer. Uma síndrome comum nos dias atuais é a Burnout, uma doença que surge devido ao esgotamento profissional. Mas o estresse se manifesta de muitas maneiras, por isso é difícil associá-lo com precisão ao excesso ou a condições desconfortáveis de trabalho”, justifica.
Fonte: Jornal do Comércio/RS